A Figura do Ano
A Figura do Ano (pela negativa): coronavirus
Contempladas todas as peças em presença, a Redacção do Redactor concluiu que a Figura deste 2020 que hoje termina é, infelizmente, o coronavirus, uma doença que veio desfigurar todas as ilusões mundanas que nos apoquentam e deixou evidente uma realidade camuflada ao longo de anos: a irrelevância da União Africana (UA) e de muitos sistemas instalados no nosso continente.
Se alguém duvidava de que os sistemas de Saúde e de Educação, por exemplo, no nosso martirizado Moçambique, eram relegados para o plano periférico por quem dirige os destinos do país, desapaixonado, deve ter concluído que muito do que se apelida de hospitais/centros de saúde e escolas, eram meras comédias.
O “bicho” que, oficialmente, pela primeira vez, em 17 de Novembro de 2019 atacou um homem de 55 anos de idade na província chinesa de Hubei e causou a primeira morte (um indivíduo de 61 anos de idade) na cidade de Wuhan, no mesmo país, entrou em África em Fevereiro e foi reportado pela primeira vez em Moçambique em Março de 2020. Era o princípio do drama que até hoje prevalece, tendo, até ao dia em que escrevi este artigo (30Dez2020), gerado 63 óbitos, 18.372, dos quais 18.059 são de transmissão local e 313 casos são importados, oficialmente.
Economicamente, o coronavirus fez recuar o mundo para níveis imediatos à Segunda Grande Guerra e coloca o planeta Terra num “novo lugar”, com “novos hábitos, costumes e relacionamentos”.
Distanciamento, confinamento, quarentena, isolamento, assintomático, sintomatologia, evolução para óbito, entraram no léxico de quase todos. E surgiram “novos experts em medicina”…
Quase tudo mudou: planos colectivos e individuais, economias de rastos, fronteiras fechadas, pessoas confinadas em suas casas e estas transformadas e locais de trabalho (teletrabalho). O Mundo todo em estado de emergência, onde as pessoas se temem, se distanciam e membros da mesma família se evitam…
E, quando chegou a vacina, os habitantes do Continente berço da humanidade foram olhados como habitantes da região berço da dizimação: os últimos nas prioridades, por culpa própria, porque as independências políticas em África começaram há mais de meio século. (A Figura do Ano)
Sobre esta tragédia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez a primeira comunicação pública, via twitter do respectivo director-geral, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, a 4 de Janeiro. Na altura, já 59 pessoas estavam contaminadas. Cinco dias depois, a OMS anunciava que as autoridades chinesas haviam concluído que a doença era transmitida por uma nova espécie de coronavírus (a primeira vez que se deu pelo vírus foi na década de 1960), consta.
Curiosamente, na República Popular da China, o país mais populoso do Mundo e de onde se diz que eclodiu a doença e podia ter resultado numa catástrofe humana épica, o assunto foi sanado rapidamente e hoje por hoje quase já não se fala de covid-19.
Se nos dias que correm a China voltou a ser notícia relacionada com coronavíruos tudo teve a ver com a condenação, a quatro anos de prisão, da jornalista Zhang Zhan, que noticiou pela primeira vez o surto inicial da covid-19 em Wuhan, acto interpretado pelo regime de Beijing/Pequim como “provocação de distúrbios” e “procura de problemas”, por isso condenada, nos termos das leis locais.
Como todas as moedas têm duas faces, a covid não podia ser excepção: que a explosão pandémica tenha permitido uma inversão positiva de valores e alguma introspeção de todos. Pela primeira vez em muito tempo em algum momento todos sentimos a nossa nulidade e despidos de poderes imaginários e nos apercebemos, salvo raríssimas excepções de alguns maníacos sofrendo de excesso de palhaçadas nas suas mentes, que a nossa vida social não está resumida a uma pobre busca pelo lucro ou pela acumulação de riqueza. (A Figura do Ano)
Resumindo: 2020 é um ano para esquecer e por isso que se lixe!
Redactor