A força da mudança contra a Paralisia Social

Penso que não é novidade para o caro leitor, que a realidade social, económica, política e cultural não é estática, mas sim dinâmica. Isto é, a sociedade, pouco aos poucos vai mudando. Mudam-se as leis, políticas, planos, presidentes, ministros, directores, chefes, régulos, enfim, mudam-se todas as peças da máquina social, política, económica e cultural, incluindo os lubrificantes. Porém, em qualquer sociedade, comunidade ou família, nem sempre a mudança é algo prazerosa, tão pouco pacífica. A mudança é bem-vinda para os jovens, “outsiders”, os infortunados cronicamente, mas ela é também uma ameaça para os estabelecidos, nativos, veteranos.

A paralisia social remete a um sistema ou subsistema da sociedade paralisado, estagnado no tempo e espaço social, político, económico e cultural. Esta “paralisação” pode estar ligada a pura ignorância ou ao conformismo, cujo os indivíduos vivem uma constante contradição entre as expectativas e a realidade. A paralisia social também pode emergir por vontade das próprias pessoas (a massa popular), por via da sua ignorância ou conformismo, tanto que também pode ser por uma manipulação remotizada pela máquina governativa.  

Enquanto a geração da viragem (Redactor, N° 6956, pág. 5) reclama novas formas de sentir, pensar e agir sobre os problemas sociais, políticos, económicos e culturais, esta atitude, nem sempre é bem acolhida para velha geração (os estabelecidos), pois constitui uma ameaça ao conforto dos “habitus”. O conforto é um grande amigo do presente, mas ao mesmo tempo, um grande inimigo do futuro, pois o futuro é incerto. A incerteza do futuro, sobretudo quando o remoto não está nas nossas mãos, é tão grande, que até nos rouba o sono, esperança e consequentemente ficamos desorientados. Já desorientados, é inimaginável a nossa acção ou reação perante a força da mudança.

Mas, porque a sociedade, pela sua natureza é dinâmica, a força da mudança é tão forte que a paralisia social. A força da mudança está ligada ao espírito jovem, que se nutre da nova maneira de sentir, pensar e agir, numa perspectiva de encontrar o melhor sentido da vida contra a paralisia social estagnada na vida rotineira remotada dentro de um ciclo vicioso sem sonhos, perspectivas e mira do futuro, seja por ignorância ou pelo simples conformismo desesperado.

Há aqueles que dizem que a força da mudança está na elite, que em toda a história da humanidade a elite é que constitui a força da mudança. Outros dizem que a força da mudança é a juventude, a geração da viragem. Acho interessante esse pensamento. Porém, para mim continua ainda penumbrada a ideia, de tal forma que não ajuda aqueles que querem quebrar a paralisia social e tentar fazer alguma coisa para mudar o ciclo vicioso e remotado em que se encontram.

A questão que se coloca é, que força da mudança, a elite tem, para quebrar a paralisia social que lhe proporciona o conforto de hábitus? Que motivação a elite teria para quebrar o ciclo vicioso sobre o qual vive e se alimenta? Se a juventude é considerada também como geração da viragem, como força da mudança, a questão que se coloca é: que jovens são esses que constituem a força da mudança? O que lhes motiva para tal?

Se procurarmos as respostas, vamos perceber que, o que no fundo constitui a força da mudança em qualquer sociedade, em toda história da humanidade, não é a elite, tão pouco a juventude. A força da mudança não está em nenhuma categoria social de elite, adulto, jovem, criança. A força da mudança está em todos nós. É o mesmo espírito que nos impeliu para lutarmos contra os colonos; é o mesmo espírito que impele nos madjerimanes; é o mesmo espírito que impele nos professores; é o mesmo espírito que impele nos médicos; é o mesmo espírito que impele em todos aqueles que um dia decidiram lutar para mudar a sua condição social, política, económica e cultural.

Mas há um porém nisso tudo. Uma mudança de fora para dentro, muitas vezes gera contradição e apenas contribuir para uma mudança superficial. Aqui quero concordar com a não intervenção da mão externa.

Uma mudança profunda da realidade social, política, económica e cultural remete a uma mudança radical de forma de pensar, sentir e agir. Esta mudança tem sua raiz na transformação pessoal, como condição para transformação social, política, económica e cultural.

Jamais seremos capazes de promover uma transformação profunda social, económica, política e cultural, se essa transformação não partir de nós, de uma transformação pessoal harmoniosa e original.

Precisamos de reconhecer em que condições vivemos; em que condições gostaríamos de viver e o que estamos dispostos a fazer para criar essas condições e partir para uma frente de acção coerente, harmoniosa e sem violência, mas capaz de quebrar a paralisia social e promover uma transformação social de modo a tornar a nossa sociedade mais humana.

VASCO MUCHANGA (Sociólogo)

Este artigo de opinião foi escrito em Maio de 2013

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