A força do voto

A força do voto – O voto é a única arma que o povo tem, em democracia. O voto de um povo burlado e roubado por trapaceiros pode derrubar os regimes solidificados. Pode derrubar ditadores, ladrões e caloteiros. Pode colocar fora dos carris os patrões dos esquadrões da morte. Por isso, eles andam preocupados, distribuem capulanas, camisetas e bonés a qualquer pessoa para demonstrarem que são pessoas de bem, esquecem-se de que a gente os conhece pelos seus próprios nomes e as cores das suas roupas íntimas. Dão combustível a motociclistas e distribuem bebidas alcoólicas para drogarem a juventude e torná-la agressiva contra a oposição. Não estão interessados em criar postos de trabalho para jovens nem educação que os liberte como homens do futuro. Eles têm medo do voto de um povo cansado de ver o seu país sempre a regredir e sem paz.

A consciência esclarecida funciona como uma bomba atômica cujos efeitos são terríveis e demolidores. Todos os regimes corruptos e ditatoriais não querem que o povo vote em consciência.

Vimos, esta terça-feira, durante o processo de votação, tentativas incontáveis de introdução de votos pré-indicados a favor do partido governamental e seu candidato, a fim de alterar a vontade do povo que se bate pela mudança.

A cerrada vigilância popular neutralizou centenas de indivíduos que, de forma fraudulenta, tentavam dar um “empurrão” a um partido que se gaba se fundar no povo e ganha as eleições por mérito próprio. Este processo está a demonstrar que o partido no poder caiu no abismo por tantos males e dor que tem provocado no povo. Ninguém quer mais o partido Frelimo e muitos o odeiam, como é o nosso caso, por se ter virado um obstáculo atravessado no caminho do desenvolvimento do país.

Presidente da RENAMO exibindo evidências de exemplos de alegadas irregularidades

A remoção do partido Frelimo é uma necessidade histórica para a qual todos os verdadeiros patriotas são chamados a se empenhar. Se no passado a missão do povo era expulsar o colonialismo, esta tarefa foi cumprida com sucesso. A seguir foi expurgar o sistema comunista, isso foi feito com toda a elegância. Hoje, a missão é expulsarmos o partido Frelimo do poder onde se encontra, sem qualquer merecimento, há 44 anos.

Em eleições justas, pacíficas e livres, o partido Frelimo parte a coluna vertebral. Nós não temos dúvidas e eles também não duvidam desta verdade. O partido Frelimo (que nada tem de parecido com a Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique) – que cumpriu a sua tarefa que era libertar a pátria do jugo colonial, expulsando do solo pátrio o sistema colonial.

Agora, é urgente que o povo se una, mais vez, para se livrar dos novos colonialistas de cor preta que, ontem, haviam sido aclamados como libertadores do povo. Pensávamos que a democracia fosse capaz de trazer a paz, liberdade e desenvolvimento, mas, nos equivocamos, pois, a situação vai de mal a pior. A mudança é a palavra de ordem. O povo está cansado de aldrabices. Está cansado de mentiras e de roubos. O povo quer mudanças nas suas vidas e acha que não foi criado para ser escravo de ninguém nem para ser roubado, para sempre, como tem sido feito. O povo pode libertar-se do partido Frelimo, ainda que tenha esquadrões da morte para nos silenciarem. A liberdade e a paz são o caminho.

O partido Frelimo está bastante estressado. Está nervoso e sabe que, havendo eleições livres, pacíficas e transparentes, perde-as copiosamente e o tal “5-0”de que Filipe Nyusi andava a dizer, durante a campanha eleitoral, expressa o medo que tomou de assalto as hostes do partido Frelimo.

Agente a Polícia tentando acudir um dos numerosos “casos” que marcaram as eleições desta terça-feira

Tanta gente flagrada com boletins pré-indicados, e só para o partido Frelimo, ensombra o processo eleitoral e coloca a nu o que andam a propalar de que é um partido maduro, cinquentenário e experiente.

A prática está a demonstrar de que tudo isso não passa de uma grande farsa. Um partido maduro ganha as eleições sem se socorrer de fraudes nem da violência policial que está empenhada em maltratar os eleitores que pretenderem proteger o seu voto. Um partido cinquentenário não precisa do suporte dos órgãos eleitorais para vencer uma eleição.

Bolentis pré-votados interceptados em Morrumbala, Zambézia

O partido Frelimo não ganha nenhuma eleição livre, pacífica e transparente. O povo não confia no STAE que tem distribuído, antecipadamente, votos por militantes do partido Frelimo. Não confia na CNE e, também, não confia, tampouco, no Conselho Constitucional por serem órgãos dominados pelo partido Frelimo. Não confia na FIR/UIR nem GOE por serem polícias ao serviço do partido Frelimo. O povo confia no seu voto para afastar o partido Frelimo do poder. Quer eleições sem violência nem truques tais como enchimento de urnas com votos falsos, chamar a polícia para roubar urnas para as oferecer ao partido Frelimo. Eles têm medo do povo. Têm medo do voto do povo que se quer livrar das garras de um regime de assassinos.

O povo, para além do voto, tem que começar a pensar que os partidos que chegaram ao poder por via armada, dificilmente largam o poder, por isso, vale a pena escolher outras formas de luta, verificar outras estratégias.

Os dirigentes dos partidos que chegam ao poder pelas armas pensam que foram enviados por Deus para governar os seus povos.

A frente única das forças da oposição poderá melhorar o desempenho da luta política. Chamar o povo para ocupar as ruas, praças e jardins das grandes cidades poderá obrigar os governos ditatoriais a saírem pela janela. Porém, isso não vai acontecer tão cedo porque a nossa oposição ainda sofre de problemas estomacais graves. Cada um pensa que, sozinho, pode vencer um regime que se esconde por detrás da couraça do poder político.

A permanência do partido Frelimo do poder é da inteira responsabilidade dos partidos da oposição.

EDWIN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 17 de Outubro de 2019, na rubrica semanal denominada O MIRADOURO

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