A FRELIMO É QUE FEZ

A FRELIMO – Quando Moçambique proclamou a sua independência de Portugal em 1975 eu tinha cerca de 10 anos de idade na minha aldeia.

Cuidava de gados bovino, caprino e ovino quase todos os dias.

No dia da independência eu e meu amigo Xigohane wa Pauli, nome tradicional de Lourenço Paulo (que Deus o tenha) fomos ao convívio da festa da independência na sede da célula da Frelimo. Encontramos muita gente a comer, dançar e ninguém consumia bebidas alcoólicas.

A Frelimo proibia a produção caseira e consumo de bebidas alcoólicas. Os Grupos Dinamizadores controlavam tudo nas aldeias.

No ano seguinte fui matriculado na escola primária local.

Usamos os primeiros livros produzidos pelo governo da Frelimo, que falavam de episódios da luta de libertação nacional.

A Frelimo controlava a sociedade com disciplina.

Nenhum jovem solteiro ou solteira brincava aos sexos e ficava impune. Eu gostava da Frelimo, porque educava a sociedade com disciplina igual a que os meus pais impunham em casa.

Entretanto, de algum tempo à esta parte, a Frelimo perdeu os seus valores morais com arrogância e corrupção à luz do dia.

Alguns membros e dirigentes usam cargos de chefia e abusam de tudo e de todos. O guia do povo moçambicano perdeu bússola de respeito e honestidade deixando as populações à deriva.

O Presidente da República e por sinal do partido Frelimo, Filipe Jacinto Nyusi, decretou estado de emergência reforçando as medidas restritivas de reunião e convívio familiar e popular para conter a propagação de coronavírus em Moçambique.

No entanto, membro sénior do partido Frelimo juntou camaradas numa sala em Sofala para dar aulas sobre a prevenção da pandemia.

O “camarada chefe” deixou-se fotografar para mostrar trabalho aos seus superiores hierárquicos em Maputo. As fotos circulam nas redes sociais mostrando o chefe e outros camaradas reunidos.

Mas o encontro viola o apelo do governo para as pessoas ficarem em casa, na medida do possível. Mesmo em casos de funeral só se permite a participação de 20 pessoas e mascaradas.

A reunião do chefe saído de Maputo vai se multiplicar em outras reuniões nos distritos, localidades, círculos e células do partido Frelimo.

Na África do Sul, o Presidente Cyril Ramaphosa censurou e suspendeu a Ministra das Comunicações e Tecnologias Digitais por ter violado o confinamento obrigatório decretado para conter o coronavírus.

A ministra Stela Tembisa Ndabeni-Abrahams foi suspensa por ter participado num almoço em casa do seu amigo, Mduduzi Manana, quando o país está em confinamento obrigatório.

A ministra fez fotografias que circularam nas redes sociais.

O presidente Ramaphosa e o ANC não gostaram e agiram, repreendendo a jovem ministra com corte de um mês de salário e ainda corre o risco de ser levada à barra da justiça.

Membros do governo sul-africano, incluindo o chefe do Estado, vão dedicar 30 por cento dos seus salários dos próximos dois meses para o fundo de solidariedade com as vítimas e vulneráveis de COVID-19.

Em Moçambique, onde está aquela Frelimo que fazia bem…?

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 15 de Abril de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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