A hérnia de disco
“Hérnia de disco é o deslocamento do disco intervertebral, estrutura cartilaginosa da coluna. As hérnias discais ocorrem em consequência do desgaste e da fragilidade do disco intervertebral”
Vamos falar do desgaste do aparelho do Estado. Sempre quando o Presidente da República visita uma província, ou outro lugar dentro do país, os funcionários são obrigados a contribuir. Os funcionários são cordeiros nas mãos do matadouro. Até chegam a não gostar de receber visita presidencial, pois tem sido um calvário.
Por que há essa obrigatoriedade de contribuição? Há anos vazou contribuição num dos distritos da província da Zambézia. Hoje vaza contribuição em Lichinga, na província do Niassa.
Esta cidade (Lichinga), considerada a mais pacata, esquecida e jogada no esquecimento, obriga os funcionários a contribuírem para alguém que não fez nada para o país, e não só isso, não há nenhuma lei que suporta essa arbitrariedade.
São funcionários das direcções distritais de Lichinga sendo sacrificados em nome de boladas e manter o cargo do governador e seus aliados. Não contribuam e verão que o presidente voltará satisfeito, o Estado dá-lhe algo nessas visitas, não cabendo mais sacrifício de quem mais precisa.
Sabe, parece mentira, mas não é por acaso; a Frelimo sabe que também muitos funcionários dessas direcções são seus membros. A sua contratação foi tratada no partido. Foi para lá que muitos enviaram peças de expediente.
Mas também quem já não se identifica é atirado para longe e identificado como traidor e “persona non grata”. Obrigá-los a contribuir é muito natural e essa prática vem desde o ano de 1975.
O Presidente da República tem tudo o que quer e precisa. Tem dinheiro, casas, empresas, jactos, tudo o que se pode imaginar, até animais de grande e pequeno porte.
O funcionário sacrificado está sem salário, renda atrasada, família sem comida, casa inacabada que vem tentando erguer desde há 10 anos. O funcionário que é obrigado a contribuir não tem seguro de vida nem de saúde, não tem esperança de nada, todos os dias anda a chorar. Ou seja, o funcionário público é um mendigo.
Muitos funcionários públicos vivem fazendo táxi-mota nos lugares onde trabalham. Têm dívidas em todos os bancos e não dormem nas suas casas com medo dos agiotas. São gente infeliz demais! E, agora, devem dar a quem devia resolver o problema deles? Mas como funcionamos como Estado?
São os professores e pessoal da Saúde em greve que vão contribuir? Contribuir para o Presidente devia ser considerado crime. E agora, entre nós, não cabe um processo-crime contra quem escreveu a carta e contra quem ordenou? Os funcionários podem levantar essa questão e levarem ao Ministério Público, pois estão a brincar com os seus trabalhos.
O nosso aparelho do Estado é como uma hérnia discal. O aparelho do Estado está tão frágil que cada um impõe o que lhe apetece e segue o seu mundo. Notamos isso no INCM, GOVERNO E AS OPERADORAS. Até hoje nada muda.
Quer dizer, estão a aplicar uma técnica de simulacro, o Governo deve ter sentado com todos e dito: “Vamos simular voltar às tarifas anteriores e vocês do INCM finjam obedecer, mas, no fim, as operadoras mantêm as tarifas… digam aos clientes que as tarifas serão resolvidas e voltaremos às anteriores, aguardem…”. E estamos aguardando sem saber quando a corda rebentará.
Quando se diz imediato, é para já e não pode passar um dia sequer. Mas as operadoras são como a província que rouba aos pobres para os empobrecer mais. Ou seja, o funcionário público já é pobre, a visita do Presidente o despe ainda mais. Para onde este país vai cair?
Você, sendo funcionário público, irá contribuir para um endinheirado? Irá se esfolar para dar ao rico que nem precisa do seu feijão ou animal esfomeado?
Se queremos um país organizado, melhor, desenvolvido, almejável, cobiçado, devemos nos abster de tudo o que nos mancha e regride. A título de exemplo, a obrigação de contribuição do funcionário público mancha-nos e nos regride.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 07 de Junho de 2024.
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