A Ilusão do Poder em Sistemas Autoritários
Em regimes autoritários ou em sociedades marcadas pela concentração de poder, muitas vezes aqueles que executam as ordens acreditam possuir algum controle sobre a situação.
Soldados armados e fardados, por exemplo, frequentemente se vêm como guardiões do sistema, ignorando que são apenas instrumentos descartáveis para a manutenção da ordem de uma elite governante. Essa percepção ilusória de poder reflecte não apenas um engano, mas também uma tragédia: a instrumentalização de vidas humanas como ferramentas em nome de interesses superiores.
A arma nas mãos de um agente estatal, seja ele um soldado, polícia ou miliciano, não confere poder real. Ela simboliza a delegação de força, mas não autonomia.
A obediência às ordens superiores sem questionamento torna o portador da arma uma extensão de um comando alheio, incapaz de agir por conta própria ou de enxergar as implicações morais e políticas de suas acções.
Ao eliminar “inimigos” designados pelo sistema, o agente muitas vezes se sente poderoso e útil, mas não percebe que está em um ciclo perigoso: quando os inimigos desaparecem, ele mesmo pode se tornar alvo, seja por sua “inutilidade” ou pela necessidade do sistema de eliminar aqueles que conhecem demais.
A farda, por sua vez, é um símbolo temporário e transitório. Ela confere autoridade enquanto serve ao sistema, mas não é garantia de permanência ou segurança. Aquele que a veste não possui o Estado nas mãos, mas apenas um espaço limitado de acção concedido pelas elites no poder. Quando o sistema decidir que ele não é mais necessário, será descartado sem hesitação.
Esse ciclo de manipulação expõe um dos paradoxos mais cruéis dos sistemas autoritários: os agentes encarregados de proteger o regime são, em última análise, tão vulneráveis quanto as pessoas que eles reprimem. Eles não possuem controle real sobre suas próprias vidas, sendo constantemente vigiados, manipulados e descartados ao sabor dos interesses superiores.
Portanto, é fundamental que aqueles que ocupam essas posições de poder delegado compreendam sua condição e desenvolvam uma consciência crítica.
Somente ao reconhecer sua instrumentalização e sua vulnerabilidade, poderão questionar a lógica que sustenta sistemas autoritários e buscar alternativas para promover a justiça, a liberdade e a dignidade humana para todos, incluindo a si mesmos.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA