A irmandade racista
Somos irmãos de corpo e alma, terra e naturalidade. O que nos pode diferenciar para além da estatura é a cor da pele, que tantas vezes nos faz confundir o território por agir.
O racismo, para além do efeito de discriminação baseado na crença da existência de uma hierarquia entre cores e etnias, faz com que os possuidores de pele clara sejam os ditos superiores, enquanto os de cor negra, independentemente da sua condição económica, género, entre outras características, estariam sempre em lugar de inferioridade.
Ontem jovem igual a qualquer um, batalhador até que conseguiu instalar-se em um restaurante, uma vez ter noção de culinária, fazendo diversos pratos com o mesmo produto ou ingrediente. A língua inglesa era do seu domínio, não mais falava outra fora aquela para melhor satisfazer a ansiedade do patronato e confiança no seu trabalho.
A noite ia caindo, o calor era intenso. O dia seguinte era de trabalho, não era fácil ficar em casa, tal que um grupo de amigos da sua geração decidiu visitar aquele restaurante com vista a colocar as ideias em dia. Não deixavam transparecer a condição financeira que detinham para não expor a sua vida, evitando desta forma a má percepção dos demais naquela região.
Mesmo no local, a mesa que lhes foi servida era plástica, a mais (pálida possível) colocada num dos cantos daquele estabelecimento comercial, quando as melhores e feitas de madeira estavam reservadas e os proprietários eram inexistentes (aguardavam por qualquer indivíduo de cor branca para a sua ocupação).
Os mesmos nunca chegavam, o que deu a perceber que ocorria uma total discriminação, pois a parte central do restaurante era para uma determinada elite. Os talheres que lhes eram servidos eram diferentes dos dados aos de pele negra.
Viveu-se naquele local uma total forma de preconceito ou discriminação motivada pela triste acção cristalizada na cultura de um povo e perpetrada por pessoa negra, de origem indígena que, por conseguinte, ocupava um cargo de chefia.
As suas expressões linguísticas eram carregadas de ofensas aos seus próximos, transmitindo a alegria aos demais e entristecendo a outros simultaneamente.
“O mundo é incerto quando mal vivido”. Com o andar do tempo, a empresa fechou, o racista desempregado e isolado, uma vez ter espezinhado um grosso de gente que com ele vivia dentro e fora daquele recinto.
Ficam lamentações, sem devida honra e credibilidade no seio populacional, pois, aos que imitava e alegrava, regressaram aos países de origem.
Consta das escrituras sagradas, Isaías 53:3, que, “pelo contrário, foi desprezado e rejeitado pelos homens, viveu como homem de dores, experimentou todo o sofrimento. Caminhou como alguém de quem os seus semelhantes escondem o rosto, foi menosprezado, e nós não demos à sua pessoa importância alguma”.
Já diz a gíria popular “cá se faz, cá se paga, pois que o feitiço virou-se contra o feiticeiro”.
Não se pode permitir que o tempo distancie ou crie alguma divergência no seio da comunidade, uma vez que nem todos são capazes de superar os obstáculos que ameaçam a longevidade das nossas amizades.
É importante esclarecer que o racismo acontece dentro de um contexto histórico específico, embora seja sempre uma atitude condenável. Alguns de nós mantêm a tradição ofensiva para melhor sobressair em certas ocasiões, levando a vida como se nada estivesse a acontecer.
“O racismo deve ser combatido diariamente, primeiro em atitudes individuais e, depois, de forma social, pois, entre irmãos, fica uma colisão e desinteresse comunicacional”.
Saibamos que qualquer acto racista deve ser punido por quem de direito, é crime, não cabendo ao vitimado adoptar qualquer tipo de medida punitiva, em virtude da ausência de poderes para tanto.
Estar sozinho e sem alguém para nos ajudar é muito difícil. Por isso, precisamos de pessoas que nos dêem uma mão para encontrar a direcção certa. Essa forma de amparo pode ser feita por meio de palavras que se transformam em conselhos. Vale a pena manter o vínculo com aquele amigo especial com certa regularidade, com o qual teria vindo do nada, pois o tempo ensina e nem sempre de forma positiva.
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal REDACTOR, na sua edição de 17 de Agosto de 2023, na rubrica denominada OPINIÃO
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