A vergonha dos desavergonhados
Na vida, cada um paga pelos seus actos. Se não for agora pagará depois. Nada aqui sai e termina intacto quando o assunto é maldade ou mesmo bondade. Vejo com muita dor o que nos obrigam a passar.
Crianças estão sendo dadas à Save the children ou à Unicef, velhos estão sendo dados a instituições de caridade para deles cuidarem. Hospitais estão sendo dados a ONG para gerirem-nos. Lixo também sendo dado a ONG para administrarem-no. Ou seja, estamos vendidos e não sabemos. Tudo aqui já está terceirizado e até o povo está nas mãos de outrem. Só que vocês não sabem!
Há um episódio que não me ajuda a engolir a saliva como deve ser. Os nossos concidadãos morrem e adoecem neste solo, mas sempre devem expor-se nas redes sociais pedindo ajuda para que tenham a segunda chance tendo algum tratamento fora do seu país, que não oferece nada de melhor. Preocupa-me, sobremaneira, a indiferença dos que se dizem dirigentes deste beco que se chama país. Cada um luta como pode! Cada um engole saliva a seco como pode!
Fazem-se de míopes quando esses nossos irmãos pedem ou morrem porque não há quem os apoiou para merecerem uma vida ou saúde ainda que comprometida. Afinal, qual é o papel dos dirigentes? Tomar whisky apenas? Sentar nos gabinetes em sofás ou cadeiras giratórias? O que um dirigente faz? Ou eles estão num drive thru?
Eles não podem fazer nada. O que o povo pode fazer? Hoje você celebra vitória invitoria e amanhã pagará a factura. Hoje você apoia o opressor e amanhã pagará a factura. Se o país está como está hoje é devido à nossa apatia face aos acontecimentos. Achamo-nos inteligentes quando somos ignorantes. Vivemos de lamber a códia quando devíamos comer arroz refogado.
Cada povo tem um cão que merece. E cada cão tem um dono que o merece. Estamos à mercê não porque nos impuseram, mas porque assim queremos. Se não há mais vergonha na mente deles, que nós criemos vergonha e pudor. Um país não é defendido pelos dirigentes, entretanto, pelo povo que empresta poder a esses tais de dirigentes.
Um país não é defendido pelos políticos. Eles apenas são como um palito de fósforo dentro da caixa e quem faz acender o fogo é o dono da casa. E quem é o dono da casa? É o povo. É você. Somos nós. Políticos apenas se preocupam em serem eleitos e, para isso, fazem de tudo até que se concretize a vitalidade do seu mandato. Eles podem matar, mas o importante é a cadeira, a continuidade do seu mandato. Notou isso? Se ainda não, preste atenção no dia 9 de Outubro de 2024.
Políticos não desenvolvem o país. É o povo cobrando pelas boas políticas públicas. São os académicos com a ciência que devem mostrar e ensinar ao povo os seus direitos e deveres. Políticos só servem para mentir ao povo e amolecerem os corações dos fracos. Políticos são uma espécie de enfeite, se não muda, ele não tem como sair do lugar.
Políticos não fazem o país, eles desfazem o país. É o povo unido que faz o país. É o povo determinado que faz o país. Do mesmo jeito que se contribui para ajudar as pessoas a terem as suas cirurgias pagas no exterior, pode-se fazer para destituir quem não corresponde às expectativas do povo.
Devia, no mínimo, ser considerado crime de ultraje pública se um dirigente ou grupo de dirigentes não cuida do seu povo. Se um governo não consegue atender cabalmente o seu povo, esse governo deveria ser responsabilizado. Não é responsabilidade do povo viver dando contribuições quando há um governo eleito para o efeito. O povo, sim, é samaritano em muitas coisas, mas chegará um tempo em que não irá aguentar mais. Como fica então o futuro das próximas pessoas que estarão acometidas por enfermidades?
Cadê os impostos que pagamos? Cadê os nossos direitos à assistência médica e medicamentosa? Cadê o direito à vida? Cadê o direito à moradia? Cadê? Cadê? Todos estamos em perigo e se não acordarmos o pior acontecerá. Se não abrirdes os olhos, a miséria fecundará nas vossas varandas.
Hoje é contribuição para cirurgias. Amanhã destruirão o sistema de educação ─ aliás, esse processo já está em marcha ─ para que vocês não tenham acesso à informação. Serão roubados os vossos direitos de informar e serem informados. A códia será a comida preferida para todos. A exemplo de Lázaro na Bíblia, o povo nos próximos dias viverá de refugos debaixo da mesa dos poderosos. Os momentos críticos não só estão chegando, como já chegaram. Quando vês um senhor/a de idade mentindo sem piedade, eis que o véu se rasgou. Véu da miséria, da perseguição, da morte dos inocentes… espero que haja purgatório efectivo.
Contudo, quando a vergonha some, resta violência, intriga, apropriação, roubo, ou seja, tudo o que eticamente proibido se faz à luz do dia. Pois não há quem põe a moral no lugar. Viver sem regra não é a regra da vida.
Este artigo foi publicado intitulado “Solidariedade social” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 05 de Janeiro de 2024, na rubrica OPINIÃO.
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