África – II
Pensei que ao fim destes meus 72 anos, em que o nosso sempre Bom Deus, continua a conceder-me a graça de peregrinar na terra já tudo tivesse visto e aprendido. Mas eis que o nosso amigo Padre AJ me mandou o texto de Leon Tolstoi, que a seguir “ipsis verbis”, transcrevo: “Para que a verdade seja ouvida, ela deve ser dita com bondade. A verdade só é bondosa quando dita por intermédio do coração, com sinceridade”. Este extracto é retirado de um dos livros de Lev Nikolayevich Tolstoi (Nascido a 9 de Setembro de 1828 – Falecido a 20 de Novembro de 1910), conhecido em inglês como Leon Tolstoi, foi um escritor russo. Filho de uma erudita família da aristocracia da Rússia dos Czares, é considerado um dos escritores mais importantes da literatura mundial. Embora nunca os tivesse ganho, de 1901 a 1910 recebeu nomeações para os prémios Nobel da Literatura e da Paz.
O nosso acima mencionado amigo Padre enviou-me esta reflexão como uma forma suave e diplomática de me pedir para que nos meus textos adopte a via mais polida e bondosa de dizer algumas verdades. Vou tentar seguir-lhe o ensinamento. Prometo.
Vamos prosseguir a nossa dissertação sobre África. Eu gostaria de dizer vamos concluir. Mas para um continente do tamanho de África, é impensável acabar-se uma reflexão sobre o mesmo em escassas duas semanas e num texto espartilhado com 500 palavras.
O continente africano é composto por 54 países, distribuídos em cinco sub-regiões: África Setentrional, África Meridional, África Central, África Ocidental, África Oriental.
A África é o terceiro continente mais extenso (depois da Ásia e da América) com cerca de 30 milhões de quilómetros quadrados, cobrindo 20,3% da área total da terra firme do planeta. É o segundo continente mais populoso da Terra (atrás da Ásia) com cerca de 1,28 Biliões de Pessoas (estimativa de 2018). Continua a ser um continente hipo-povoado (densidade demográfica de 30 pessoas por quilómetro quadrado). Este hipo-povoamento é, por vezes, um “handicap” contra o qual o nosso continente terá que lutar segundo um processo de povoamento planificado, conforme políticas económicas devidamente concebidas, realistas e consentâneas ao nosso continente. É meu princípio que uma casa rica não habitada é alvo de cobiça alheia e nem sempre bem-intencionada. Talvez seja o caso do nosso continente. Rico e com pouca gente. Fica exposto à pilhagem.
Para cabal compreensão acerca do que é África, talvez falássemos da Etimologia, Geografia, História, Governo e Política, Cultura e outros aspectos importantes caracterizantes deste nosso continente duplamente muito rico e igualmente muito empobrecido.
Por deficiente capital humano, mal adestrado, para adoptar uma gerência ainda mais eficiente dos capitais natural e financeiro, África é o continente mais depauperado do planeta terra. Há conflitos armados cíclicos. O analfabetismo assentou os seus arraiais no nosso continente. O avanço de epidemias é uma dura e triste realidade. O agravamento da miséria põe em causa o seu desenvolvimento. A instabilidade política deteriora as condições para o alcance de alguma estabilidade política propiciadora de crescimento económico, como é o caso da África do Sul, que possui sozinha um quinto do PIB. E mercê desta sua saudável situação foi convidada a pertencer à constelação dos países BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa.
Embora alguns políticos discordem comigo, eu continuo a insistir que a par da má governação protagonizada pela elite política que gere os nossos países após as nossas independências, um tecido social estragado durante os 500 anos de colonialismo, não poderá ser reposto em menos de 60 anos de duração da queda dos domínios coloniais em África. Não estou a desculpar a nossa ineficiência em matéria de “good governance”. Estou sim a suplicar que o mundo como um todo crie condições para que o Capital Humano africano queime etapas rumo à sua capacitação.
Há um ditado asiático que nos ensina o seguinte: se queres dormir sono sossegado ajuda os teus vizinhos a terem o mesmo nível de desenvolvimento económico que o teu. Isto é, o planeta Terra como um todo só ganhará quando existir uma partilha menos desigual dos recursos sempre escassos.
* Economista
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 12 de Julho de 2024, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.
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