Alvoroço no povoado de Homba, distrito de Mueda

A população de Homba, distrito de Mueda, Norte da província moçambicana de Cabo Delgado, abandonou domingo a aldeia, para as comunidades vizinhas, após alertas da circulação de um grupo não especificado de terroristas nas imediações, segundo fontes locais.

“Ontem [domingo] não se dormiu bem na aldeia de Homba porque os terroristas estavam a circular na zona de Nambaiaia. De Nambaiaia a Homba, é muito perto”, disse à Lusa, a partir da comunidade de Nanhala, a mesma fonte da Força Local, que combatem os terroristas.

A população deixou a aldeia de Homba no domingo, em direcção às comunidades vizinhas de Nanhala e Chudi, após os relatos de aproximação deste grupo.

A mesma fonte explicou que os supostos insurgentes foram avistados no terreno por madeireiros que operam nas matas de Nambaiaia, limite entre aldeia Homba, Mueda e Mandela, distrito de Muidumbe, quando iam em direcção a Homba, os quais conseguiram alertar a população.

“Graças aos madeireiros é que a população tomou o conhecimento, mas não sabemos aonde foram, segundo eles, na sua maioria eram homens, um pouco de mulheres e crianças”, concluiu.

Outra fonte no terreno apontou à Lusa a possibilidade de se tratar de um grupo em fuga de Mucojo, no litoral de Macomia, onde nos últimos dias as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estão a intensificar ações de combate.

“Os nossos colegas militares estão a combater e bem, acho que é o reflexo disso, devem estar a fugir de lá e nós aqui estamos cientes do nosso papel que é de proteger a população que está a regressar”, afirmou a mesma fonte.

Algumas famílias demonstraram à Lusa o desespero face ao futuro na aldeia de Homba, de onde partiram quando precisamente a vida começava a voltar à normalidade, após quase seis anos de ataques.

“Temos alguns centros do comércio a funcionar, alguns de nós já estávamos a limpar as nossas terras para o cultivo”, lamentou um idoso, de 67 anos, ouvido pela Lusa.

A comunidade de Homba dista mais de 50 quilómetros da sede do distrito de Mueda e no princípio de 2022 a aldeia foi alvo dos ataques dos rebeldes, obrigando a fuga da população para as comunidades de Nanhala, Chudi, Chapa e Mueda – sede.

A província de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos a insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novos ataques a Sul da região e na vizinha província de Nampula.

O conflito no norte de Moçambique já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para pós Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.

O grupo extremista Estado Islâmico reclamou este mês a autoria de um ataque à base Kathupa, interior do distrito de Macomia, província moçambicana de Cabo Delgado, afirmando que foram mortos 10 militares das FDS de Moçambique.

O ataque, em 08 de Agosto, foi reivindicado através de um comunicado divulgado pela agência Amaq, do grupo fundamentalista, referindo que outros sete soldados das FDS ficaram feridos, e que incluía uma fotografia de vítimas e material apreendido, cuja autenticidade não foi possível atestar.

As autoridades moçambicanas não confirmaram até agora a ocorrência deste incidente.

Tratou-se, aparentemente, de uma tentativa de recuperar aquela base, capturada aos terroristas pelas FDS desde o ano passado.

O Presidente da República moçambicana afirmou em 10 de Agosto passado que as FDS expulsaram os terroristas de todos os distritos que ocupavam na província de Cabo Delgado, norte do país.

“As nossas Forças de Defesa e Segurança, também assistidas pela força local, continuam a perseguir sem tréguas os terroristas, tendo-os desalojado de todos os distritos que até 2021 ocupavam”, afirmou Filipe Nyusi, em Maputo, numa recepção ao homólogo queniano, William Ruto, em visita de Estado ao país.

“Prosseguem os esforços de luta contra os terroristas que atacam alguns distritos da província de Cabo Delgado, conjugando a cooperação multilateral e a bilateral, da SADC, através da SAMIM [Missão Militar da África Austral], e do Ruanda, respectivamente”, detalhou o Presidente moçambicano.

Redactor

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