Ambiente (de novo) inquinado
Escusado disfarçar, o ambiente político moçambicano está, de novo, a ficar cada vez mais inquinado.
A intolerância agudiza-se, em contramão com alguns discursos de ocasião.
Não é segredo para muitos que de há uns anos a esta parte quem pensar ou se expressar livremente, principalmente contra o sistema instalado (salvo alguns “críticos autorizados”), tem à espera um balázio ou pé-de-cabra, de tal sorte que tudo indica que uma indústria ou comércio de urnas funerárias, cadeiras de rodas e canadianas (vulgo muletas) tem tudo para dar certo por estas bandas.
Para agravar o cenário, basta acompanhar os mais recentes comentários públicos dos senhores dos (des)consensos, que cinicamente se tratam por “irmãos”.
Falando para os seus seguidores na Matola durante a mais recente sessão do Comité Central (23-25 de Março), o presidente do partido Frelimo e da República, Filipe Nyusi, afirmou não esperar que o seu contraparte, líder da Renamo, Afonso Dhlakama, venha com novas exigências.
Nyusi deu a entender que a descentralização e o desarmamento dos homens residuais da Renamo eram duas faces da mesma moeda.
Dhlakama, por seu turno, tem outro entendimento: esta semana foi citado por um semanário a afirmar que o seu “irmão” Nyusi estava equivocado ao associar a descentralização e o desarmamento dos homens da “perdiz”.
“Descentralizar é uma coisa e (o desarmamento e) a integração dos homens da Renamo é outra coisa”, teria dito Dhlakama, acrescentando mesmo que “o presidente Nyusi nunca me abordou oficialmente para me dizer que a descentralização é para trocar com o desarmamento (…) Eu acho que estava a fazer política, e compreende-se (…). Se calhar foi para contentar os camaradas nervosos com a derrota de Nampula, não sei. Mas cada um tem os seus problemas, e eu também tenho os meus”.
Estas palavras, acrescidas a um comentário de Dhlakama segundo o qual “a Renamo não vai retirar armas da sua segurança e entregar a um conjunto de pessoas que recebem ordens do partido Frelimo. Isso nunca vai acontecer, aliás, todo o mundo sabe (disso) desde 1994”, reflectem tudo, menos consensos sérios entre Nyusi e Dhlakama.
Isto tudo, associado aos atentados, raptos, torturas e mortes selectivas que se assistem na “Pátria Amada” apenas dão para concluir que o ambiente está simplesmente inquinado e que falar de consensos deve ser para fazer boi dormir, porque parece que os dois arquirrivais continuam vivamente motivados a aniquilar/decapitar a outra parte, apenas esperando o primeiro deslize.
Se há um desejo que gostaria de exprimir neste momento, é, sinceramente, de estar redondamente enganado, mas lá que a coisa está feia, bem me parece.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 06 de Abril de 2018, na rubrica semanal TIKU 15!
Caso esteja interessado em receber regularmente a versão PDF do jornal Correio da manhã manifeste esse desejo através de um email para corrreiodamanha@tvcabo.co.mz, correiodamanhamoz@tvcabo.co.mz, ou geral@correiodamanhamoz.com.
Também pode ligar para o 84 1404040, 21305326 ou 21305323.
Gratos pela preferência