ANC ataca SABC
“ANC vira contra Hlaudie” e “Meu inferno na SABC” são títulos garrafais nas primeiras páginas de dois principais jornais sul-africanos: The Citizen e The Star respectivamente.
Cada jornal descreve à sua maneira o clima de “terror” contra a liberdade editorial na South African Broadcasting Corporation (SABC), maior cadeia de radiodifusão da África do Sul, com cinco canais de televisão e 19 estações de rádio.
O respeitado jornalista Vuyo Mvoko, formado na Austrália, onde viveu como exilado durante o apartheid, contou a sua odisseia na SABC, dizendo que a censura começou nos últimos anos do mandato do Presidente Thabo Mbeki.
Segundo Mvoko, o então director de Informação, Snuki Zikalala, usou e abusou do poder à revelia da administração de Mbeki. Agora, o chefe das Operações, Hlaudi Mosoeneng, considerado aliado do Presidente Jacob Zuma, usa e abusa do poder na corporação.
Seis jornalistas que se pronunciaram contra as suas ordens foram suspensos. Sob ordens de Motsoeneng, a SABC não mostra imagens da destruição de bens públicos durante protestos contra a insuficiência de serviços públicos nas comunidades sul-africanas.
Aconteceu com as recentes manifestações que abalaram o município de Tshwane (Pretória), nas quais cinco pessoas perderam a vida e mais de 20 autocarros foram destruídos a fogo posto.
O Presidente do Conselho de Administração (PCA), o veterano jornalista Jimi Matthews, demitiu-se esta semana citando ambiente corrosivo na corporação.
O porta-voz nacional do partido no poder, Zizi Kodwa, acusou Jimi Matthews de ter sido “instrumentalizado para destruir a credibilidade da SABC”.
A Ministra das Comunicações, Faith Muthambi, disse que a demissão de Jimio nesta altura é suspeita.
Entretanto, jornalistas de vários órgãos de informação e membros de organizações da sociedade civil marcharam para sede e delegações da SABC em Durban e na Cidade do Cabo exigindo a reposição da liberdade editorial e o levantamento da suspensão contra os seis jornalistas.
O chefe da bancada parlamentar do ANC e presidente da Comissão das Comunicações no Parlamento, Jackson Mthembu, convidou jornalistas para a sede do partido em Joanesburgo, a famosaLuthulu House, e falou duro e num tom muito agudo contra a gestão da televisão e rádio públicas.
Disse que o ANC e o público sul-africano não têm acordo secreto com a SABC para censurar imagens de violência, que não encoraja, ou partidos políticos da oposição.
Jackson Muthembu anunciou que o ANC vai convocar de emergência esta semana a ministra das Comunicações para prestar declarações sobre o “caos” na gestão da corporação.
O poderoso secretário-geral do ANC, Gwede Mantashe, disse mais tarde que não percebia por que razão o chefe das Operações tem mais poderes na SABC do que o presidente do Conselho de Administração.
Para Gwede Mantashe, isto é sinal de falta de liderança na corporação.
Na tarde desta quarta-feira, membros e simpatizantes do partido comunista marcharam para a sede da SABC em Joanesburgo para exigirem liberdade editorial.
O Partido Comunista é aliado do Congresso Nacional Africano. Os gestores da SABC estão em apuros, mas desdramatizam a situação. Dizem que é política em tempo de campanha para eleições municipais de Agosto próximo.
Autor: Thangani wa Tiyani (nosso correspondente na África do Sul)