Angolanos votam amanhã

Ao cabo de 30 dias de campanha eleitoral que obrigou os concorrentes a percorrer milhares de quilómetros e a aprimorar discursos ao eleitorado, caiu esta segunda-feira o pano deste movimento de promessas e juras de fidelidade dos candidatos e eleitores, respectivamente, e hoje estão todos caladinhos nos respectivos cantos, aguardando a abertura das 12.512 assembleias de voto (25.873 mesas de votação disponíveis à escala nacional) para a grande decisão esta quarta-feira.
Como que orientados por um “pacto de cavalheiros”, os três principais concorrentes a este pleito realizaram as chamadas “últimas grandes acções de massas”, aquilo que em Moçambique se designa de “showmícios de encerramento de campanha” em dias diferentes, na capital do país, Luanda.
O governamental (há 42 anos ininterruptamente) Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e o respectivo cabeça-de-lista, João Manuel Gonçalves Lourenço, foram os primeiros a realizar a sua última “grande acção de massas” no sábado (19 de Agosto) e no dia seguinte coube a vez da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) com o seu Abel Epalanga Chivukuvuku.
Numa aparente homenagem à máxima que diz “os primeiros por vezes são os últimos, e/ou vice-versa”, àUnião Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), actualmente liderada por Isaías Henrique Ngola Samakuva, na primeira posição no boletim de voto a ser usado amanhã nas mesas de voto, couberam as honras do fecho da campanha eleitoral angolana, igualmente em Luanda.

Militantes e simpatizantes da UNITA
Militantes e simpatizantes da UNITA no último comício de campanha eleitoral

O campo da FILDA, no Cazenga, arredores de Luanda, foi o local escolhido para o comício que arrastou uma multidão que terá surpreendido o próprio Samakuva, ao ponto de considerá-la “extremamente impressionante” e que “desmente aquelas sondagens que colocam a UNITA como o terceiro partido mais votado nestas eleições”.
“Já sofremos buè (muito). Basta. Fora, MPLA! Fora, gatunos e corruptos!”, gritavam os presentes, enquanto aguardavam ainda pela chegada de Samakuva, sob a animação de jovens músicos dentre os quais, tal como no comício da CASA-CE no domingo, participou o “MCK – O Revolucionário”.
Interpelado peloCorreio da manhã para explicar a sua participação em dois comícios de organizações concorrentes,“MCK – O Revolucionário”, de seu nome oficial KatrogiNhangaLwamba, alegou que para ele “o que importa é actuar a favor da oposição séria para derrotar o regime que já me privou da liberdade”.
Depois de uma entrada apoteótica no local do comício, Samakuva centrou o seu discurso na pedagogia de como votar na quarta-feira, e traçou as linhas que nortearão a sua governação, em caso de vitória nas eleições desta quarta-feira.
Pediu aos funcionários do Estado, forças de defesa e segurança e “até aos membros e simpatizantes do MPLA” a votarem na UNITA, porque, “salvo uma pequena elite, a maioria dos angolanos está a sofrer, está numa miséria absoluta. O que a TPA (canal público de tv) anda a exibir é um país virtual, porque a realidade que todos vocês conhecem e vivem é uma lástima”.
“Quem quer o passado sofrível que vote na continuidade. Quem quer um futuro melhor que vote na mudança”, apelou Samakuva, respondido com coros repetidos da multidão que gritava “mudança – agora”.
Desmentiu alegações segundo as quais se a UNITA ganhar as eleições “haverá guerra em Angola”. “É mentira. Nenhum angolano quer a guerra. Nós queremos consolidar a paz e o desenvolvimento”, enfatizou o líder da UNITA.
No seu discurso que durou cerca de 60 minutos, Isaías Samakuva acusou os actuais governantes angolanos de “andarem nervosos de tal sorte que andam a fazer e falar coisas que nem uma criança nelas pode acreditar, basicamente com recurso a meios públicos de comunicação social”, com a TPA a ser repetidamente acusada.
Insistência também incidiu sobre os agentes das forças de defesa e segurança que, garantiu o líder do “galo negro”, não serão perseguidos se a UNITA ganhar as eleições. “Cumpram a lei e não protejam os corruptos e gatunos porque regressados à casa mergulham no sofrimento, enquanto os que vos usaram estão na luxúria”.
“Eles vos ‘penteiam’ porque ganham mal e têm famílias e como bons chefes de família têm obrigações como tal, por isso, como ganham mal, para fazer boa figura lá em casa têm de vos ‘pentear’”, comentou Samakuva, sobre a alegada postura inadequada que caracteriza alguns agentes das forças de defesa e segurança.
Por força da legislação eleitoral angolana esta terça-feira não se realizam actividades políticas, por ser dia de reflexão.
Na tarde desta segunda-feira a Presidência da República de Angola emitiu um comunicado através do qual o Chefe de Estado decreta “tolerância de ponto” para permitir que os eleitores possam participar no escrutínio sem sobressaltos.
Às eleições de amanhã concorrem o MPLA, UNITA, CASA-CE, Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).

REFINALDO CHILENGUE, em Angola

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