As barreiras da língua!
As barreiras da língua! – Desde a sua existência, o ser humano sempre procurou formas de comunicar-se e, é através da língua que ele interage.
Vários autores digladiam-se em torno da definição do conceito de língua, uns dizem que língua é o sistema linguístico empregado por uma determinada comunidade para a comunicação entre seus membros outros consideram que é o conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, e o conjunto de regras da sua gramática – enfim, são várias definições, mas não quero aqui concentrar-me nas questões conceituais, até porque sou leigo na matéria.
Pretendo aqui, é partilhar as barreiras da língua. Os menos incautos lembram-se dos tristes episódios que aconteciam com os nossos irmãos que abandonavam o solo pátrio rumo à África do Sul, para supostamente “tentarem a vida”.
Alguns que viam a terra do rand como el-dorado, chegados lá arrependiam-se sobretudo os que optavam por vias ilegais, porque gente impiedosa açulava os cães que mordiam-nos.
Foi horrível ver compatriotas que passavam por esta dura realidade à procura do pão.
Muitos destes moçambicanos, não sabiam falar línguas locais como zulu, tswana, africâner e a língua inglesa que é a oficial, daí que eram descobertos com facilidade que se tratava de cidadãos estrangeiros.
Portanto, isto mostra que a língua é mesmo identidade que deve ser preservada, porque tem valor apesar de alguns desprezá-la, em detrimento da oficial.
Mas o caricato é que os que desprezam a sua língua materna por vezes falam mal as chamadas línguas oficiais, para o nosso caso, o português.
Um exemplo apenas: num belo dia, cruzei a baía com destino à cidade da Maxixe. Quando lá cheguei, ouvi de um agente da autoridade que comunicava-se ao telefone na sua língua, gitonga, e mais tarde por achar-se, sei lá, de ser confundido com um indivíduo de baixo nível de escolaridade, abandonou o seu gitonga e começou a falar português. A primeira frase a construir na língua de Camões e em tom de rasgar os céus foi esta: Afinal você não tens o meu WhatsApp? Isso mesmo – você não tens o meu WhatsApp?
Não entendi porque é que abandonou a sua língua para agredir a língua de Camões, uma vez que pelo que percebi, a pessoa com quem conversava fala gitonga.
Mas este foi apenas o começo. Em Vilanculo, uma zona turística por excelência, vivi um outro episódio: um jovem que por corruptela prefiro chamá-lo de Magandani, trabalhador numa das casas de pasto, tinha dificuldades de falar a língua Portuguesa, mas diante dos clientes não queria mostrar a sua realidade.
Os clientes que não sabiam que o meu amigo Magandani não sentou muito nos bancos da escola pediam algo para comer, usando a língua Portuguesa, este fazia-se de quem tivesse problemas auditivos.
Um dos clientes chegou mesmo a ficar com nervos na flôr da pele porque ficava longo tempo a espera por um sim ou não do que solicitou.
O cliente questionou ao jovem, já de costas viradas – óoo jovem você trabalha aqui?
O meu amigo Magandani fez de contas que não ouviu. Deu alguns passos até a cozinha e voltou ao restaurante. Chegou onde eu e meu compadre estávamos sentados e disse: Phela mina nzi tira lojeni, que traduzido para Português significa eu trabalho na loja. Uma tentativa de dar a entender que tinha sido improvisado para o restaurante.
Depois de pronunciar-se em língua cítswa, os clientes que ali encontravam-se e que aperceberam-se de que a barreira do diálogo era a língua começaram a dialogar com ele em citswa e a conversa fluía.
Quanto a mim foi bom que o meu amigo Magandani mostrou a sua realidade, pronunciando-se na sua língua materna, o citswa que é a sua identidade.
Valorizemos as nossas línguas nacionais e sintamos o prazer de sermos moçambicanos. (As barreiras da língua!)
HORÁCIO ROMÃO
Este artigo foi intitulado “As barreiras da língua!”, foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 06 de Maio de 2022, na rubrica de opinião denominado OPINIÃO.
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