Tartarugas em Maputo
Jacob Timóteo Mingano reconhece a ocorrência de um substancial aumento do número de tartarugas nas praias que vão do extremo sul da região da Ponta do Ouro a Ponta Gomeni, área maioritariamente coberta pela Reserva Especial de Maputo (REM), zona meridional de Moçambique, onde desde 2006 vigora uma intensa campanha de conservação desta espécie que chegou a ser considerada altamente em risco de extinção.
“Não restam dúvidas que a situação melhorou muito de 2009 a esta parte”, assume o jovem (21 anos de idade) garçon do complexo turístico Anvil Bay Chemucane, natural de Machangulo, uns 20 quilómetros mais a norte de um luxuoso lodge erguido na região da Ponta Chemucane, dentro da REM.
O depoimento desta fonte “desgarrada” acaba, assim, confirmando as declarações de elementos ligados ao esforço conservacionista em marcha naquele local, entre nacionais e estrangeiros.
A sul-africana Johalize Koch, uma das gestoras da Peace Parks Fundation, integrante de uma coligação de conservação natural na qual estão incluídas ainda a REM e a Reserva Marinha Parcial de Ponta do Ouro (RMPPO), expressou idêntico entendimento do de Mingano, em declarações à Reportagem do Correio da manhã e Prestígio na Ponta Chemucane.
“Este esforço só tinha de dar certo porque a ANAC o leva a cabo com o envolvimento directo das comunidades que colaboraram na denúncia de eventuais ataques às tartarugas e/ou roubo dos ovos destas ou aqueles que tentam molestar turistas”, afirma Koch.
Efectivamente, entre cerca das 20h00 e aproximadamente 22h30 da noite de 14 de Dezembro de 2017 a Reportagem do Correio da manhã/Prestígio percorreu, de carro, os pouco mais de 50 quilómetros pela linha da costa entre Ponta do Ouro e a Ponta Chemucane, tendo se deparado, fotografado e filmado numerosas tartarugas, algumas saindo do mar para a terra firme, outras em pleno exercício de desova e outras de regresso ao Oceano Índico ou terem deixado marcas da realização deste trajecto.
“É grande o esforço que se tem desenvolvido ao longo das duas reservas para garantir a conservação de todas as espécies existentes de fauna e flora. A avaliar pela contagem/monitoria de espécies-chave podemos concluir que estamos a obter resultados encorajadores. No geral, há a indicação do aumento do número de animais na REM e na RMPPO, por exemplo, as populações de tartarugas marinhas tem aumentado, as dos mamíferos marinhos está estável com excepção dos dugongos, entre outros”, sintetizou Paulo Miguel Braga Gonçalves, administrador das Reservas Especial de Maputo e Marinha Parcial da Ponta do Ouro, em declarações à nossa Reportagem.
Gonçalves destacou que inicialmente os recursos naturais na REM e na RMPPO foram exageradamente explorados em consequência da não presença de fiscais de conservação (período da guerra civil) e da inexistência da área de conservação marinha (declarada em 2009).
Para o actual estágio nas duas áreas de conservação a nossa fonte destacou o “grande investimento” providenciado por vários parceiros nacionais e internacionais, com destaque para as esferas dos Recursos Humanos, Infra-estruturas de Gestão, equipamentos, re-introdução de espécies que existiram anteriormente na REM.
“A iniciativa de apoio às comunidades residentes ao longo das duas reservas permite uma maior consciencialização do valor da fauna e flora, uma maior estabilidade financeira para os nativos que já beneficiaram destes apoios e, consequentemente, a redução da pressão sobre os recursos naturais”, acrescentou Paulo Miguel Gonçalves.
O fiscal marinho moçambicano Filimone Francisco Javane, 34 anos, corrobora a tese das fontes anteriormente mencionadas que está a resultar na recuperação da população dos Cheloniidae.
Espectáculo raro africano
“Os nativos deixaram de olhar para as tartarugas como fonte de alimentação. Hoje eles entendem o valor ecológico e socioeconómico da espécie que com a sua conservação garante numerosas vantagens para as comunidades, com destaque para o emprego”, frisou Javane, há oito anos a trabalhar no projecto liderado pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) de Moçambique.
Hoje o relacionamento entre os nativos e os turistas é harmonioso (antes havia casos de ataques e roubos a estes) e tanto os veraneantes como os autóctones deixaram de constituir ameaça para as tartarugas.
O à vontade dos turistas, que debaixo de cintilantes estrelas da noite africana desfrutavam das maravilhas com as quais a mãe natureza bafejou Moçambique naquele pedaço de pouco mais de 50 quilómetros de praia, foi constatado pela nossa Reportagem.
Aos pares ou em grupos de aproximadamente uma dezena de pessoas circulavam, com bandos de adolescentes aos gritos perseguindo caranguejos e, por vezes, parando para, em silêncio e sorrateiramente, acompanhar o impressionante exercício de reprodução das tartarugas que têm o seu auge quando nesta actividade entram em transe e simplesmente se “marimbam” para tudo o que ocorre à sua volta e fazem o que devem para assegurar que a sua espécie ameaçada se mantenha como parte integrante do universo.
“Nunca tinha visto nada igual na minha vida. Considero-me uma sortuda entre os humanos”, celebrou, radiante, o jornalista moçambicano ao serviço da Televisão de Moçambique Arnaldo Langa, que esteve com o Correio da manhã/ Prestígio nesta empreitada.
A combinação de esforços conservacionistas na REM e na RMPPO é simplesmente impressionante, saldando-se numa harmonia quase perfeita entre o Homem e a Natureza.
O complexo turístico Anvil Bay Chemucane é disso exemplo.
Erguido literalmente no meio da mata, junto à costa marítima, nos moldes “amigo do ambiente”, cujas obras foram iniciadas em 2012, efectivamente inaugurado em 2016 e oficialmente pelo ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, no dia 30 de Outubro deste 2017, num investimento privado (do norte-americano Paul Bell) de aproximadamente três milhões de dólares norte-americanos é eminentemente à base de material local.
“Proporcionamos emprego a 30 moçambicanos, única nacionalidade que aqui trabalha e por nós treinada ou mandada formar na vizinha África do Sul”, comenta, ufana, em declarações ao Correio da manhã/Prestígio, Ricky Bell, esposa do proprietário do Anvil Bay Chemucane, tal como o marido, dona de uma extraordinária simplicidade e um fantástico relacionamento com os seus colaboradores.
“São de uma extraordinária competência e sabem compreender os momentos bons e maus da casa”, prosseguiu Ricky, aludindo ao comportamento dos seus colaboradores moçambicanos.
Com uma extensão de 678 quilómetros quadrados, a RMPPO foi criada em 2009 e está localizado no extremo sul de Moçambique, junto à fronteira com a África do Sul.
Por seu turno, a REM (1040 Km quadrados) foi criada em 1960, no distrito de Matutuine, na província de Maputo.
REFINALDO CHILENGUE