Avertino Barreto: saúde

Avertino Barreto  – O epidemiologista Avertino Barreto considera que a falta de investimento no sistema de saúde moçambicano antecipou o impacto da terceira vaga da pandemia em Moçambique, destacando que se não fosse o esforço dos profissionais de saúde o país estaria numa situação crítica face ao aumento do número de infecções. 

“Isto podia ter sido evitado, se o investimento na saúde fosse sério”, declarou, em entrevista à Lusa, Avertino Barreto, que também é membro da comissão científica criada para aconselhar o Governo para tomada de decisões face à pandemia em Moçambique. 

Para o epidemiologista, o investimento desembolsado na última década para a saúde não é proporcional ao crescimento de Moçambique, que agora enfrenta uma doença “muito mais agressiva em termos de transmissibilidade” quando comparada com outras epidemias que o país enfrentou no passado, com destaque para cólera.  

“Tivemos outras epidemias e, se falarmos de recordes, esta doença ainda não tem o significado desastroso como outras que eu pessoalmente vivi”, acrescentou o médico, que está ligado ao sistema de saúde há mais de 40 anos, frisando que o principal erro do Executivo moçambicano foi não ter apostado no investimento em infraestruturas e capacidades do setor da saúde do país nos últimos anos.

“Por incapacidade ou negligência no investimento à saúde pública, nós sujeitamos a uma população que é paupérrima a ter de recorrer ao setor privado, onde os custos são enormes e as pessoas não conseguem suportar”, declarou.

Avertino Barreto entende que Moçambique assistiu, nos últimos 12 anos, uma inversão de valores e hoje as políticas e prioridades já não estão viradas para a saúde das pessoas.

“Há toda uma ânsia e egoísmo num pensamento totalmente degradante”, alertou o médico, que considera que o país já devia ter o mínimo de infraestruturas e capacidade para uma “resposta muito mais eficiente e humana”.

Por outro lado, prosseguiu o epidemiologista, o empenho e o esforço dos profissionais da saúde que estão na linha da frente têm sido fundamentais para evitar um cenário pior, num momento em que os salários desta classe continuam baixos face a importância do sector

“Há médicos em Moçambique que vivem em garagens e não têm casa, mas diariamente e pontualmente não deixam as pessoas morrerem”, acrescentou o epidemiologista, que aponta o trabalho que tem sido feito pelo Hospital da Polana Caniço, um dos principais da capital para o internamento de doentes com covid-19, como um exemplo regional de resposta à pandemia.

Moçambique, que está na terceira vaga da covid-19 e a registar recordes no número de mortes e internamentos nas últimas semanas, conta com um total de 1.600 óbitos e o de casos é de mais de 131 mil, segundo as últimas actualizações.

 O Ministério da Saúde tem alertado para a possibilidade de esgotamento da capacidade de internamento, tendo já sido registado na província de Maputo, que já não tem camas para novos doentes e tem recorrido à cidade de Maputo para assistir os pacientes em estado grave.

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