Balanço negativo

Balanço negativo – O porta-voz oficial do Governo, Filimão Suaze, admitiu, publicamente, na passada terça-feira, que o Executivo avalia negativamente a forma como os cidadãos moçambicanos se comportam perante a declaração do estado de emergência pelo Presidente da República, em vigor desde o Dia de Mentiras deste 2020.

No meu modesto entender, Suaze fez uma singela homenagem à máxima que defende o acasalamento do discurso com a prática, ou seja, coerência com o que falamos e fazemos, pelo menos em público.

Tenho dito e repito, aqui: a covid-19 não conhece estatuto, filiação religiosa, partidária, cor da pele ou outra diferenciação. Essa avaliação errônea está nas cabeças das pessoas, apenas.

Este balanço negativo agora assumido pelo Governo e reportado por Suaze apenas surpreende quem se surpreende com a sua própria sombra.

Moçambique não podia esperar outro cenário, senão este balanço negativo agora assumido pelo Conselho de Ministros, quando no cumprimento das regras do estado de emergência se aplica uma sinistra e cínica política segregacionista.

Só se espanta com o balanço negativo quem não se escandaliza ao ver algumas “excelências” e/ou figura(nte)s públicas, em público, sem máscaras faciais ou com elas mal-usadas, atitude que colide com as recomendações contidas no protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Só se espanta com o balanço negativo quem assobia para o lado quando os que devem zelar pela observância das regras do estado de emergência actuam, publicamente, de forma discriminatória ou fazem dessa actividade um negócio chorudo.

Só se espanta com o balanço negativo aquele que acha que só “os outros” é que devem ficar em quarentena depois de viajar para locais com casos de covid-19.

Noutras latitudes, chefes de Estado, ministros e parlamentares ficam em quarentena depois de efectuar viagens. Caso contrário, são penalizados. Há notícias que tais, vindas de diversos países, incluindo da vizinha África d Sul, Namíbia, Zimbabwe e Lesotho.

A mais recente que tomamos conhecimento é de que, por exemplo, o Primeiro-Ministro da Bulgária, Boiko Borissov, foi multado por ter entrado, na terça-feira desta semana, sem máscara, numa igreja.

Conheço um país onde aparentemente para expressar o seu suposto grau de superioridade hierárquico perante os restantes, alguns “ilustres” se apresentam sem máscara, a falar da necessidade do uso da mesma, para os restantes… acredito que nesse país apenas se espantaria com um balanço negativo do cumprimento das medidas de prevenção da covid-19 quem assim prefere, simplesmente.

É incompreensível um pai insistir em inculcar no filho para evitar o vício do tabaco, quando ele tem o cigarro entre os dedos ou lábios.

É que conheço um país onde apenas na declaração se está em estado de emergência porque o que se vivencia está bem longe desse princípio. É só ver o frenesim nos restaurantes, supermercados e os congestionamentos nas estradas…

Coerência exige-se ou então não sairemos do balanço negativo. Talvez seja o resultado de select, copy & past governativo.

Estamos na “globalização”, mas cada país tem as suas realidades e se insistirmos e imitações podemos cair no ridículo.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 26 de Junho de 2020, na rubrica semanal TIKU 15

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