“Batalha” contra Moçambique
Os gestores de fundos de algumas das maiores casas de investimento em mercados emergentes estão a preparar-se para uma ‘batalha’ contra Moçambique e os outros credores do país no caso da reestruturação da dívida deste país africano.
“Não é culpa dos detentores dos títulos de dívida e eles não devem esperar qualquer vontade da nossa parte em aceitar” perdas, disse o gestor Lutz Roehmeyer, que supervisiona cerca de USD 12 mil milhões activos no Landesbank Berlin Investment, incluindo parte dos USD 727 milhões de dívida soberana de Moçambique.
“Eles deviam entrar em ‘default’ [incumprimento financeiro] nestas empresas públicas; não há necessidade de pagar os empréstimos a tempo”, defendeu o gestor, referindo-se às dívidas da Proindicus e da Mozambique Asset Management (MAM), que são garantidas pelo Estado.
A ideia de Moçambique de juntar os credores das dívidas das empresas públicas e dos títulos de dívida soberana num só grupo com o qual fosse possível negociar em conjunto uma reestruturação das dívidas sofreu um revés na terça-feira, quando um grupo de detentores da dívida soberana recusou não só a ideia de reestruturar a operação, mas também de ser agrupado numa operação financeira conjunta.
No comunicado divulgado na terça-feira, cinco investidores que detêm cerca de 60% dos USD 727 milhões em títulos de dívida pública, que resultaram da conversão das obrigações da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), em Abril, disseram rejeitar a proposta e os prazos defendidos pelo ministro das Finanças numa apresentação em Londres.
Timming para renegociação
Os detentores de títulos de dívida defenderam também que uma renegociação só poderia começar depois da auditoria internacional estar concluída e publicada e depois de o Fundo Monetário Internacional retomar um programa de ajuda.
As taxas de juro dos títulos de dívida pública de Moçambique subiram 900 pontos base para quase 25%, fazendo a perceção de risco da dívida soberana ultrapassar a Venezuela e tornar-se a mais arriscada, com os juros mais altos do mundo.
“Eles precisam de comprar tempo”, comentou o director-geral da EM Quest, Phillip Blackwood, que ajuda o dinamarquês Sydbank A/S a gerir, USD 2,5 mil milhões em activos dos mercados emergentes, incluindo Moçambique.
“Os detentores de títulos de dívida soberana estão numa posição mais firme porque já suportaram uma reestruturação, ao passo que os credores dos empréstimos [da Proindicus e MAM) ainda não”, acrescentou o consultor, concluindo que “os credores dos empréstimos precisam mesmo de reestruturar e adiar os pagamentos, como os detentores de ‘eurobonds’ fizeram; Moçambique também tem de fazer alguns cortes no orçamento, não pode simplesmente dizer que já não tem dinheiro”.
Para o director do Programa Africano na Chatham House, Alex Vines, “Moçambique está numa fase muito, muito difícil”, porque “o país está à beira do abismo; não têm dinheiro”.
REDACÇÃO