Capital Humano – 2

Nestes momentos em que a anarquia campeia entre nós, soa-me ser salutar saudar o comunicado da nossa Polícia da República de Moçambique (PRM), disseminado por SMS – Short Message Services – dos nossos celulares do teor seguinte: “Caro cidadão, a vandalização e sabotagem de infra-estruturas e bens públicos e privados, a obstrução de vias de acesso, a queima de pneus nas rodovias, são actos que interferem negativamente na ordem pública no país. Abstenha-se destas práticas criminosas. Colabore com a PRM!”.

Significa que esta corporação paramilitar não é sanguinária, nem sádica e entristece-se quando obrigada a ir ao extremo de maltratar o elemento essencial do Capital Humano – as pessoas.

Acho que todos os moçambicanos, respeitadas as livres convicções políticas de cada um, que deveríamos felicitar esta postura da nossa corporação policial nacional e republicana. Similar atitude, “mutatis mutandis” deverá ser adoptada pelos milhares de igrejas pertencentes às principais confissões religiosas (cristãs, islâmicas, hindus, etc.), cujo credo e catequese têm milhões de seguidores em Moçambique. Se o fizessem estas confissões religiosas conseguiriam, com muito melhor eficiência, mobilizar as pessoas a reivindicarem o que bem lhes aprouver, mas evitando de protagonizarem violência contra pessoas e património alheios.

O capital humano, tal como os demais de outras esferas com as quais a Mulher e o Homem lidam, terá que ser rendibilizado, de forma sustentada e continuada. Este capital, sob pena de fossilizar ou estagnar terá que ser valorizado, mediante a implementação de políticas aprovadas pela máquina governativa.

Uma das formas – a principal – da valorização do capital humano, é cumulá-lo de conhecimentos – ciência e tecnologia – úteis à sua sobrevivência. É fundamental que as pessoas sejam municiadas de educação de excelência. Saber. Saber fazer. Saber estar. Saber ensinar. São um dos muitos pilares que as pessoas deverão dominar através da educação.

Muitos dos programas económicos não conseguem atingir os propósitos para os quais foram bem concebidos, porque as pessoas, seus recipientes e implementadoras, não possuem adestramento bastante para os concretizarem.

É importante, por exemplo, que o camponês saiba quais as etapas a observar para que uma semente lançada à terra se transforme em milho. Mas este conhecimento empírico, secular, transmitido, costumeiramente, pelos seus ancestrais, produz pouca rendibilidade do produto final, por hectare.

Este défice pode ter sido derivado pelo facto de o milheiral não ter sido adequadamente regado, desinfestado de pragas, beneficiado de monda extemporânea e de muitos “outros etecetras”. A educação ou formação ora preconizada nesta minha reflexão deverá ser feita em moldes de uma vaga do mar uniforme.

Daquelas ondas que apanham tudo no seu caminho. Não adianta somente alfabetizar o machambeiro. Este, muitas vezes, se transforma em alfabetizado funcional (analfabetismo funcional é a incapacidade que um indivíduo tem de interpretar informações em textos e usá-las no quotidiano, ainda que consiga reconhecer letras e números).

Para se evitar este constrangimento, teremos que investir nos para-técnicos locais (os assim designados “técnicos de pé descalço”). Estes técnicos locais farão a educação do machambeiro durante todo o ciclo vegetativo da cultura ou do processo de gestão dos animais se se tratar de pecuária ou avicultura.

 Ao capital humano, através de políticas governamentais ininterruptas e sempre em inovação (pesquisa & desenvolvimento) permanente, terá que beneficiar de valores acrescentados. As pessoas – componentes essenciais do capital humano – terão que evoluir permanentemente, desde o seu nascimento até ao seu ocaso.  E se isto acontecer teremos um País próspero!

ANTÓNIO MATABELE *

*  Economista

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 01 de Novembro de 2024, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.

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