Carta à sua excelência Presidente da República
Talvez seja a minha última carta da vida ou por meio dela serei procurado para prestar declarações ou daqui partirá a caça ao homem.
Senhor Presidente! Excelência. Vou emprestar o termo “excelência” aos deputados da Assembleia da República que tanto o usam.
Podia mesmo dizer do início ao fim desta carta “Senhor Presidente ou senhor Filipe Jacinto Nyusi”. Quero crer que nenhum termo aí ofende ao senhor ou mesmo qualqueriza e muito menos reduz a sua posição de mais alto magistrado da nação.
Não queria prolongar com esta carta, mas também dez anos de colonialismo no país não foram poucos. Primeiro, queria perguntar se o coração anunciado no dia do empossamento ainda continua grande e cabendo aos moçambicanos? Continua bombeando sangue de milhões de moçambicanos pobres e miseráveis?
Sabemos que o senhor se orgulha de ter (des)governado o país e ter feito coisas que só cabem na cabecinha dos camaradas. Queria também lamentar a situação precária em que deixa o país, a miséria que aumentou nos últimos anos, as mortes dos activistas e jornalistas nos últimos dez anos. Tem algo a declarar antes de deixar a “Ponta Vermelha”?
Esses senhores mortos deixaram as suas famílias sem nada. Esposas viúvas que até hoje engolem lágrimas sem número. Filhos que verão o seu pai vítima de poder. Como explicar para que confiem nas instituições do Estado? Como explicar a eles que uma das missões do Governo é defender os seus cidadãos quando os seus pais foram martirizados em alguma explicação palpável?
Lamentar também a situação de Cabo Delgado que deixa sem solução. Como será o plano da situação de Cabo Delgado? Não acha que seria bom compartilhar com os moçambicanos do estado em que se encontra Cabo Delgado abandonando a teoria de acusar jornalistas de terem plano dos insurgentes? Como se converteu o coração em que cabiam muitos para apenas caber vento?
O senhor sabe quanta dor deixa no seio dos moçambicanos? Já fez o balanço do legado que deixou ou deixará para e com os moçambicanos? Acha que será chamado eternamente de pai grande? Sinto dizer ao senhor que o povo não está satisfeito com os seus serviços e muito menos com a sua governação. Podia partilhar o porquê de viver a inaugurar coisas, em vez de trazer mudanças significativas no país?
Por que os seus ministros vivem apenas prometendo e enganando o povo? Nós já fizemos reportagens, escrevemos em jornais conselhos, críticas, sugestões, avaliações, apelos da sua governação, mas o senhor não se dignou a seguir alguma linha de mudança. Acha que levou para que lado o país?
Pode esclarecer aos moçambicanos o acordo que fez com o Ruanda? Aqueles militares do Ruanda irão com o senhor ou os deixará lá como caldo entronado? Será que na Presidência da República tem alguma biblioteca onde o senhor passava a ler alguma coisa? Se não tiver, é hora de o Estado providenciar alguma biblioteca por lá, isso é urgente.
O senhor viveu na mordomia quando os seus filhos moçambicanos estavam na miséria, penúria, na mazela e isso nunca tocou o seu coração, nunca incomodou a sua mente e nunca mudou nada na sua visão. É nesse coração que cabem pessoas? Agora vai sair do poder, pode crer que todos os que o bajulavam, irão lhe isolar e bajularão outra pessoa. Provavelmente o senhor viverá tempos muito críticos de humilhação, rejeição, estigmatização, por parte dos seus pares. O senhor humilhou muito os moçambicanos e também os seus camaradas de trincheira.
Não quis ouvir ou não queria ouvir conselhos de pessoas e, ao sair, como será a sua relação com eles? Onde irá viver neste país? Se mudará para o Ruanda ou estará na cidade de Maputo? Se pegar voo, não pode fazer escala noutro país, pois não queremos perder mais um moçambicano, fica aqui em casa que os deuses irão lhe gerir.
Senhor ex-presidente, vou lhe tratar pela primeira vez de ex, visto que para com os moçambicanos o senhor já perdeu o posto fazia anos. Apenas não temos em África e especialmente em Moçambique como destituir um dirigente, faríamos como fizeram com Dilma no Brasil. Iríamos abortar a sua governação, pois ela foi um saco roto no meio de muitos produtos.
Que fique bem claro e que o senhor vá sem paz ou com a paz, em dez anos, o senhor investiu na sua família biológica e não nos moçambicanos. Os problemas que temos no país não são de difícil solução, mas porque escolheu o caminho de abandonar os seus filhos, cumprimos a prisão desta década e sobrevivemos. Agora, examine a sua consciência e peça perdão aos moçambicanos pelos danos que lhes causou. Outros por si sabe.
O coração dos moçambicanos é muito generoso, experiente pedir desculpas, verá que será perdoado. Na sua governação, a vida dos moçambicanos regrediu 90 passos para trás.
Senhor ex-presidente, lamentamos dizer que a sua governação foi como piripíri para muitos moçambicanos, mel para bem poucos e estupro seguido de uma violação para os recém-nascidos. Deixou muitos jovens na boca do fumo e na rua sem emprego e com os seus diplomas nas gavetas das suas casas.
Não acha que seriam eles os instrumentos de desenvolvimento se quisesse usá-los? Muitos jovens trocaram o patriotismo com a bebida e prostituição, vivem hoje sem esperança e sem futuro. Abandonaram-se a si mesmo e investem na morte e na cirrose. Isso não chama ou chamou atenção ao senhor por este período? É bom ser presidente, não é? Ser servido e comer o que quiser e com quem quiser.
Pergunte ao seus amigos o que fez de bom. E se não, abra uma enquete na sua página do Facebook para ouvir os moçambicanos o que fez de bom e compile os dados. Chame a conferência de imprensa e divulgue para ter noção do buraco deixado pelo senhor. O senhor deixou colo uma mulher abandonada pelo seu marido no altar e humilhada na rua.
Terminamos agradecendo o coração dos moçambicanos, sua resiliência, postura de pessoa humana e sentido patriótico de como lidaram com os problemas que o senhor causou ao longo da sua (des)governação.
Se este foi o país que sonhou em ter ou fazê-lo ou ainda torná-lo, está de parabéns e continue assim. Se não é, peça desculpas aos moçambicanos. Pessoas que pedem desculpas mostram maturidade e compromisso.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 18 de Junho de 2024.
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