Carta aberta à Paz

Querida Paz,

desculpa-me a maçada,

é doloroso o estado que me leva a escrever-te,

a maka, Irmã, são dois salafrários de cabeça no ar

arruinando uma bandeira linda de não acabar.

Ajuda-me, Paz, por favor, a puxar,

a esticar até doerem as orelhas desses dois que não trabalham

e não deixam trabalhar ferindo o meu orgulho.

Mana, como tanto se evoca a estima própria e

tanto mal se faz aos filhos do coração estimado?

São só dois pequenos indivíduos, Paz, insectos comedores de pólvora

cortaram as águas do rio, fecharam a rua de um lado e de outro

agora não posso levantar a capulana que me dá de comer.

Peço-te, cospe-lhes na cara,

diz aos tipos para pararem de me fornicar

a verdade de um não é mais verdade que a verdade do outro.

Paz, telefona lá a esses dois pré-humanos,

uma ligação tua, Irmã, abana as minhocas nesses minúsculos cérebros,

expulsa as falsas cedências e impõe as verdadeiras condições:

  1. Não manipulem a minha convicção
  2. Não falem em liberdade no vácuo
  3. Chega de vai que não vai

3.1        Não rocem a espinha um no outro

  1. Não matem com o vosso metal o meu arco-íris

Paz, dá-me uma mão, pesada e limpa,

a ver se os dois chupa-sangue fumam no teu cachimbo.

Grita a essa porta fechada na tua cara

Irresponsáveis! Sanguinários! Ladrões!

Não pensem que podem decidir se vivo ou se morro

no ribombar dos canhões.

A ti, Mana, estas palavras chegarão audíveis, e a esses dois? Esquece!

Os patifes despedaçam a minha alma

e o mote sei-o, Querida,

têm mais egoísmo que juízo

prepotência que candura

mesquinhez que honestidade.

Sonhei-te, Paz,

ajuda-me a puxar, a esticar,

a esticar até rebentar essa impenetrável arrogância

desses dois casmurros que nasceram tão perto

mas pensam tão distante.

Te espero, Irmã, fumiga os sacanas com a tua kryptonite,

aponta-lhes a cruz, mete-lhes a nota, atira-lhes a pomba,

ordena-lhes: Reponham a nossa imagem!

Não voltem a borrar a nossa foto de família, umbiguistas!

Ensina a esses dois exterminadores, Paz,

no saber sofrer, igual ao animal engordado para ser degolado,

vive o bom político.

A cosmética não esconde a matança,

só homens notáveis tomam decisões notáveis

tornando os momentos notáveis.

Pergunta-lhes, Sister, olho no olho,

Quantos mais temos de cair até que o sintam em vossas almofadas?”

Paz, despacha-te,

o tanque da tolerância furou-se, já escorre luto denso por aqui!

Jorge de Oliveira (Escritor moçambicano)

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