Carta ao presidente da Renamo (Ossufo Momade)
Não gostaria de arrumar problemas com os linguistas. Chamo ou não de sua excelência? Só para não fugir da regra, gostava de pedir desculpas aos manos linguistas porque durante as falas contidas nesta carta chamarei o senhor Ossufo Momade de sua excelência por tropeço, chamarei de presidente da Renamo, pois ele é e por fim o chamarei de senhor Ossufo.
Antes de tudo, gostava de saudá-lo com todas as forças que tenho neste momento. Desejar-lhe boa saúde e vida em abundância, pois tem muito a dar na e à Renamo neste momento que as eleições se avizinham. Já vi que o senhor está na posição 4 não por ordem do boletim de voto, mas por sorteio. Isso mostra que está numa posição antecipada do que pode ser o fruto dos seus cultivos, senhor presidente Ossufo.
Também queria saber do nome que foi apelidado de “Mafuta”, porque tentei procurar o seu significado ou mesmo a correlação que tem com a sua pessoa. Fui ver na língua emakhuwa e, principalmente lá na Ilha de Moçambique, também pouco se usa esse termo.
Pela nossa riqueza, recorri às outras línguas locais (moçambicanas) e em sena o termo significa óleo ou gordura. Não sei se esse povo associou ao volume do seu corpo, se isso for, queria dizer que não é bom que as pessoas sejam tratadas segundo os seus estereótipos. Os termos certos são: senhor presidente da Renamo, senhor Ossufo Momade e o segundo candidato mais votado de Moçambique. Está bem assim e soa bem desse jeito.
Bom, vamos ao que nos interessa: neste ano, não quero ser pessimista, a Renamo terá um fim doloroso justamente porque o senhor não quis emprestar os seus ouvidos às pessoas que queriam o seu bem. Quis concorrer a um lugar que não era para concorrer num momento atípico como foi.
Na minha língua emakhuwa há um aforismo que diz: “ahitthekeliwa attheka”, ou seja, lhe provocaram, mas acabou provocando. Em um ambiente político, há que estudar as tendências e ouvir as massas. Quando estamos numa posição onde o poder nos é emprestado, somos voláteis e nunca estáticos. O senhor foi muito ocioso e ganancioso. Deixou a Renamo no hospício por causa das mordomias. Luta pelo poder, é uma luta sem volta.
Neste momento, o povo busca pela alternativa e não pelo partido. Quem mais bem se posiciona, esse é o que o povo quer. O senhor arruinou o seu trajecto político justamente por ter tapado os seus ouvidos e considerado os moçambicanos de bobos.
Não sou profeta e nem vou dizer que recebi da parte de Deus o que falei aqui. Eu não tenho dúvidas em dizer que desde o dia da sua eleição ali em Alto Molócuè, o senhor nunca mais foi a mesma pessoa. O seu lar abalou-se um pouco e a sua família está com tanta vergonha. O senhor também envergonhou os macuas pela sua pouca inteligência. Os macuas são vistos como inteligentes e espertos, donos das suas ideias e percursos.
Talvez um dia vou levar esta oração para Deus apresentar de forma indignatória de alguém que tinha tudo para dar certo e estragou só porque queria permanecer no poder. E agora me fale. Qual é o seu projecto de governação? O senhor estaria disposto a debater ideias na televisão com os outros candidatos para apresentar o seu manifesto eleitoral?
Como confiar na Renamo em estado de reanimação? Como dar volta por cima? Será que há uma remontada? Verdade ou não, a Renamo está a respirar em sílabas.
Agora, se o senhor Ossufo não encostar a Frelimo para no acto da manipulação dos resultados ceder alguns acentos na Assembleia da República, pode crer que não passará de 10 deputados. O meu conselho é deixar tudo e encoste-se à Frelimo para que lhe inclua no seu plano selvagem.
Mesmo a própria Frelimo, não tem condições para passar no próximo escrutínio, isto porque o povo se cansou de mentiras e opressão. Portanto, o único caminho para a Renamo e a Frelimo sobreviverem é usarem as instituições judiciárias como seu baluarte. Fora disso, não há conversa, vocês os dois estão em apuros, até porque sois casais inseparáveis, vivem se dando testamentos e renovando-os. São borboleta do mesmo casulo.
Daqui a pouco, serão lixo em partido e nunca mais serão lembrados em Moçambique. Senhor Ossufo, da próxima seja mais ouvinte que teimoso. Seja mais jovial que encrenqueiro. A vida não é sobre liderança ou chefia, é sobre legado. O que o senhor deixa como legado para este povo?
Vive reclamando em conferências de imprensa, acha que isso devolverá a vida digna ao povo moçambicano? Como tem aplicado o nosso dinheiro que recebe como segundo mais votado? Queremos que preste contas. Aliás, a Assembleia da República deve criar uma lei em que o segundo mais votado deve prestar contas do valor do povo que recebe. Aquele é um dinheiro do erário e não pode ser usado como quem o conseguiu no dumba–nengue.
Ou deve extinguir esse negócio de distribuir dinheiro para improdutivos. O que ele (segundo mais votado) faz para o país e o povo? Qual o impacto desse valor? Há que se rever essa bolada para o bem dos moçambicanos.
Senhor Ossufo, viver não é ganância, é sobre foco e legado. Como gostaria de ser lembrado? Por “Mafuta”, Ossufo, teimoso, presidente da Renamo, sua excelência da Renamo? Quero terminar dizendo o seguinte:
Se o senhor estivesse interessado com o crescimento da Renamo, teria olhado para os lados e se deixado atrás do processo eleitoral interno ocorrido na cidade do Alto Molócuè. O senhor passou uma mensagem aos moçambicanos de que não quer a Renamo na “Ponta Vermelha” levando os destinos deste país.
O senhor conversou com os moçambicanos na sua teimosia que a Renamo está feliz na segunda posição e não quer mais se mover. Se a verdade é o prato que se come quente, o senhor estragou os projectos da Renamo, humilhou os membros e sacaneou os simpatizantes.
Agora colha o que plantou e seja feliz com os vexames que recebe a cada dia. Nós aqui lhe desejamos sucessos neste processo eleitoral, embora isso seja difícil, mas não é impossível. Força aí, papá, e o caminho é para frente.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 28 de Junho de 2024.
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