Casa pela qual todos
Casa pela qual todos jornalistas – O convite de redigir estas linhas caiu-me como um súbito relâmpago. Recebi-o com um misto de satisfação e receio. Satisfação por ter sido “apurado” dentre tanta gente nobre parte da família SOJORNAL e receio de não conseguir traduzir, de forma objectiva, quão marcante e preponderante foi para mim ser um dos pupilos do eterno editor Refinaldo Chilengue.
Recebeu-me cordialmente por volta do Natal de 2004. Acabava de concluir o primeiro ano do ensino médio em Jornalismo e procurava, rapidamente, aprender a escrever – encasquetara começar a carreira num jornal e só depois pensaria em abraçar a televisão e/ou rádio.
Contudo, a minha primeira lição do editor Refinaldo acabou sendo sobre predisposição ao trabalho e não truques de colecta de dados, concepção de lead ou outro aspecto que se espera no contacto inicial com a realidade jornalística.
Ouvidas as minhas intenções, que giravam em torno do desejo de aprender jornalismo praticando em paralelo com a escola, quis saber de mim quando eu gostaria de arrancar ao que respondi que o ideal seria na semana seguinte. Incutiu-me, naquele dia, que ao pedirmos trabalho, temos que estar dispostos a executá-lo logo que nos for dado, algo que me acompanha de lá para cá.
A minha ligação com o então Correio da manhã teve dois momentos distintos. O primeiro, entre Janeiro e Abril de 2005, verdade seja dita, super-frustrante, provavelmente pela minha fraca capacidade de resposta aos desafios impostos, de trazer estórias únicas, típicas de um jornal como o agora Redactor ou por culpa do mestre, que não percebeu que daquela vez estava diante de um “recruta” verde demais.
Voltei à casa em Dezembro do mesmo ano e após uma certa convivência com outro filho da SOJORNAL, o multifacetado Ericino de Salema. Foi nesta fase que consegui do editor Refinaldo e do jornalista “desaparecido” Filimão Saveca o que pretendia: aprender a esculpir notícias.
Muito longe ainda de ser excelente jornalista, a minha inserção no “Notícias”, onde cheguei em Agosto de 2006, para estágio curricular da Escola de Jornalismo, foi graças a bagagem arrumada na SOJORNAL.
Nesta casa e com Refinaldo Chilengue, que até hoje o trato por “meu editor”, juntei ferramentas essenciais que continuam a “safar-me” no meu quotidiano jornalístico.
Num mercado que, na altura, já era corrido e hoje ficou mais ainda, aprendi deste mestre a correr sem tropeçar e a identificar, sempre, uma abordagem cativante mesmo na estória noticiada por todos. Infelizmente nem sempre consigo isto! Mas, ele ensinou-me e continuo a ver isto nos seus escritos no Redactor e na revista Prestígio, que foi inicialmente designada Positiva.
O destino mandou-me para outras latitudes, mas sempre recomendei aos colegas mais novos para que bebessem da SOJORNAL e do editor Refinaldo, em particular.
Aliás, ele sempre orgulhou-se de ser bom formador. E é. Na nossa primeira conversa enumerou uma série de nomes incontornáveis do jornalismo moçambicano que passaram das mãos deles. Francisco Carmona, editor executivo do Savana, José Paulo Machicane, na Lusa, e Ericino de Salema, são alguns dos nomes que citou naquele 2004.
Não obstante a minha permanência curta, a cada 10 de Fevereiro festejo e orgulho-me de ter sido parte deste órgão, incontornável no jornalismo moçambicano, que neste 2021 soma já 24 anos. E não é por acaso. A SOJORNAL é uma daquelas casas pelas quais todos os jornalistas deviam passar.
À Direcção e todos os actuais colaboradores, vai um forte abraço, com observância das medidas preventivas contra a Covid-19, e votos de contínuos sucessos nesta caminhada em prol do bom jornalismo ao serviço dos cidadãos. (Casa pela qual todos jornalistas)
JOSÉ CHISSANO *
* é actualmente jornalista do Jornal Notícias (desde 2007)
Licenciado em Publicidade e Marketing pela E. S. Jornalismo e faz assessorias de comunicação. Escreveu este artigo por ocasião dos 24 anos do jornal Redactor e 14 da revista Prestígio, assinalados no dia 10 de Fevereiro de 2021