Chissano: paz
O antigo chefe de Estado moçambicano Joaquim Chissano disse estar “mais optimista” sobre a negociação para a paz no seu país, onde observa “uma mudança de attitude” do Presidente e do líder da Renamo.
“O meu mal é ser optimista. Mesmo quando as coisas estão muito más, eu confio que vão ficar boas”, comentou Chissano, quando questionado pela Lusa sobre o processo de paz em Moçambique.
“Neste momento eu estou mais optimista, porque parece-me que há uma mudança de atitude na negociação para a paz. O Presidente da República [Filipe Nyusi] e o líder da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana], Afonso Dhlakama, falam ao telefone com muita frequência e os resultados são bons”, afirmou o antigo Presidente moçambicano entre 1996 e 2005.
Desde Dezembro – quando foi iniciada uma trégua nos confrontos – que “não há mortes” e “as tréguas têm sido cumpridas”, referiu.
Chissano mencionou que “houve um incidente na província de Nampula e eles resolveram isso ao telefone muito bem”.
Moçambique atravessa uma crise política e militar, marcada, antes da trégua, por conflitos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado do maior partido de oposição, que reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, acusando a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder há mais de 40 anos, de fraude no escrutínio.
Na sequência dos conflitos, por várias vezes, a circulação em algumas das principais estradas do centro do país ficou condicionada a escoltas militares, que foram desactivadas no âmbito da primeira trégua.
No final de Dezembro, como resultado de conversas telefónicas com Filipe Nyusi, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, declarou uma trégua de uma semana como “gesto de boa vontade”, tendo, posteriormente, prolongando o seu prazo por duas vezes para dar espaço às negociações, que agora estão centradas na descentralização e nos assuntos militares.
No início de Fevereiro, o Presidente moçambicano anunciou o fim da fase que envolve a mediação internacional no processo negocial e, poucos dias depois, divulgou os nomes das individualidades que vão discutir estes dois pontos de agenda.
Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança e o desarmamento do braço armado da oposição, bem como a sua reintegração na vida civil.
O antigo Presidente moçambicano falava à Lusa em Marraquexe, Marrocos, onde assistiu ao “Fim de Semana da governação Ibrahim”, promovido pela Fundação Mo Ibrahim, e que terminou sábado (08/04/17).
Chissano foi o primeiro laureado do prémio Ibrahim de Excelência na Governação Africana, atribuído pela fundação em 2007.
Os outros distinguidos são os antigos Presidentes Nelson Mandela (África do Sul), Pedro Pires (Cabo Verde) e Festus Mogae (Botsuana).
Redacção/LUSA