Comida

   É aquilo que metemos na boca com o fito primordial de, enchendo a barriga, matarmos a nossa fome e ficarmos alimentados.

O meu saudoso amigo, Firmino Gabriel Mucavele, agro-economista, docente da Faculdade de Agronomia da Universidade Eduardo Mondlane, compatriota nosso, estudioso, muito preocupado com a qualidade de vida do Capital Humano de Moçambique, defendia que a produção de comida é a primeira prioridade a ser concretizada no âmbito da implementação da nossa ENDE – Estratégia Nacional do Desenvolvimento Económico.

Este insigne académico, que, de entre as várias actividades de nomeada importância que desempenhou, também foi alto funcionário do NEPAD (New Partnership for Africa’s Development) e um dos meus vogais durante a minha presidência na AMECON – Associação Moçambicana de Economistas, disse numa conferência desta agremiação de economistas, muito bem-preparada e apresentada, com a genialidade comunicacional que lhe era peculiar, que uma das primeiras necessidades vitais a ser satisfeita, diariamente, pelas pessoas era comer. Mas para comermos temos que produzir. Pessoas esfaimadas não produzem. Este é o dilema. Esta é a certeza.

Mas que não fiquemos chorando no muro das lamentações, pensando que o milagre acontecerá! Temos que pôr mãos à obra. Urge lançarmos mais sementes à vasta e rica terra que Deus e a mãe natureza nos prodigalizam. Temos que rendibilizar este recurso.  Evitemos sub-empregar o uso da terra.

Cada espaço livre dos nossos quintais, cultivemo-lo. Voltemos ao conceito das zonas verdes nos nossos centros urbanos. Olhemos para a agricultura (e a produção animal também) em grande escala e sua industrialização. Mediante a formação rural de qualidade, transformemos o nosso irmão machambeiro de enxada de cabo curto, a agricultor evoluído, que passará a usar enxada de cabo comprido, tracção animal e tractores na faina agrícola.

É propósito demorado!? É, sim! Os resultados começarão a surgir, paulatinamente, no médio e longo prazo. Uma criança não fica mulher e homem adultos antes dos 18 a 21 anos. Então porque quereremos ser imediatistas nesta questão séria de começarmos a fazer agricultura adulta. Com paciência, organizemo-nos para ganharmos também esta batalha económica.

Na semana finda, o Presidente da República de Moçambique, mais uma vez, com a sua presença na Localidade de Xinavane, Província de Maputo, lançou o começo da campanha agrícola 2024/2025.

Auguro boa campanha agrícola se a natureza – pouca ou muita chuva – não nos pregar partidas. Mas esta incerteza, só tem um antídoto. As comunidades começarem a organizar-se em moldes cooperativistas para terem as suas represas rurais para a retenção das águas das chuvas.

Estas águas represadas de uma estação chuvosa para a seguinte, poderão ser usadas para irrigação. Assim, paulatinamente, a médio e longo prazos, começaremos a depender menos da irregularidade das chuvas. Em termos globais é um projecto oneroso. Mas se devidamente programada e bem planificada a sua implementação, conseguiremos “embaretecer” os seus custos.

Trabalhemos com as populações rurais na concretização dos seus programas. Estas terão que assumir que os programas em questão são seus e, como tal, participarão com criatividade na sua implementação.

 Campanhas agrícolas bem-sucedidas – a montante e a jusante – serão soluções para o estancamento, não coercivo, nem administrativo do actual “urban bias” (êxodo rural para as cidades). Campanhas agrícolas bem concluídas – colheita, armazenamento, comercialização, industrialização, etc. – criarão elementos materiais, financeiros, psicológicos que aumentarão o índice de sedentarização do camponês ao seu rincão natal. A Bolsa de Mercadorias terá um papel fundamental nesta cadeia. Os nossos compatriotas camponeses dirão para consigo próprios: “para quê ir sofrer para a cidade se aqui tenho tudo!?: escolas, hospitais, boas casas, lojas, segurança, bancos, restaurantes, etc.”.

Por esta razão a nossa constituição plasma que “a agricultura é a base do nosso desenvolvimento e a indústria o seu factor dinamizador”.

Vamos então, todos, desenvolver Moçambique parando com esta hemorragia de compatriotas nossos do campo para virem sofrer nos centros urbanos.

Esforcemo-nos todos – Estado, Governo, Autarquias, Pessoas Colectivas e Singulares – para desenvolvermos Moçambique a partir das Localidades.

O campo terá que ser um lugar, por excelência, economicamente atractivo, a começar pela produção de comida que deverá existir em abundância.  

E temos que começar a assumir que o machambeiro é também um investidor e, por isso, estudemos que tipo de incentivos lhe devem ser atribuídos.

ANTÓNIO MATABELE  *

*  Economista

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 15 de Novembro de 2024, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.

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