Compras (quase) obscenas

Compras: Em Moçambique o discurso oficial com apelos públicos quase diários à contenção e ao aumento da produção e produtividade literalmente colide com a prática quotidiana dos (des)governantes da chamada Pérola do Índico, que permanentemente se entregam a despesas (quase) obscenas, apimentadas com constantes chamadas ao ócio, ao convocar trabalhadores para se absterem das suas actividades produtivas para participarem em reuniões e recepção de (i)responsáveis dos mais variados escalões.

Não se trata de nenhum delírio: quem passar pelas mais variadas sedes de instituições públicas e lançar uma olhadela nas vitrinas onde regularmente são afixados anúncios/avisos e outras comunicações internas se depara com “convocatórias” sistemáticas de trabalhadores para interromperem horas ou dias de labuta para irem atender a reuniões diversas, de resultados questionáveis, ou receber “excelências” de diferentes escalões.

No entanto, o discurso oficial e público é de que temos de conter as despesas e aumentar a produção e produtividade.

O certo é que se é para se conter despesas deve ser nas de compra de medicamentos, formação/recrutamento de docentes e pessoal de saúde e noutras de áreas sociais.

Multiplicam-se greves em diversas empresas/instituições por causa dos magros salários ou atrasos destes, em meses, quando alguns sortudos se refastelam em soldos acima de milhões.

Recorte do anúncio em jornal das compras (quase) obscenas dos governantes de Moçambique em tempo que se diz de crise
Recorte do anúncio em jornal das compras (quase) obscenas dos governantes de Moçambique em tempo que se diz de crise

Mas se diz que tem de se reduzir o fosso das diferenças… Só de boca para fora.

Aliás, esta terça-feira assistiu-se ao início do que se apelidou de “greve silenciosa” de alguns dos professores da Escola Secundária 29 de Setembro da Maxixe. Assunto: Pagamento de horas extraordinárias referentes a 2016 e 2017. Só para exemplificar.

É que quanto à crise, se é que ela existe, afecta, de facto o zé-povinho, e se nela estamos mergulhados ela é resultado de práticas de alguns concidadãos devidamente identificados que diariamente fazem troça da maioria dos moçambicanos, apelando-os  ao aumento da produção, produtividade, paciência e calma.

Quem pensa que isto é prosa de um louco, que busque o chamado jornal de maior circulação de Moçambique do último dia de Outubro (pág. 13) e concluirá que se há crise neste país ela não afecta a todos, porque há sortudos que estão a fazer compras, à grande e à francesa, de “altas máquinas”, automóveis, algumas delas que custam dois milhões duzentos e noventa mil meticais por unidade. Sim, isso mesmo: 2.290.000,00MT!

Não estamos a falar de máquinas produtivas não, mas de viaturas de luxo, tipo uma que custa 2.277.000,00MT, tudo marcas topo de gama, que só não referenciamos nominalmente para não cairmos em publicidade gratuita.

Para que nada falhe, onde se julgou conveniente optou-se pelo “ajuste directo” e nos casos “devidamente controlados”, como sempre, houve “concurso público”.

Sem haver uma declaração formal e pública, parece que estamos a ser metidos num sistema de apartheid no nosso país, onde as elites estabelecidas no poder cultivam uma mentalidade segregacionista, segundo a qual os detentores do poder e os seus protegidos são os eleitos de Deus e “donos disto tudo”, porque nos libertaram do colonialismo.

Se julgam com legitimidade de esvaziarem os cofres do Estado e de se apropriar do património público e nos entreter com discursos “bonitos” de que estão a combater a corrupção e coisas que tal.

Querem mesmo que acreditemos nesse paleio?

Este Editorial foi publicado em primeira mão na versão PDF  do Correio da manhã no dia 01 de Novembro de 2017

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