Comunicado do MDN entusiasma jornalistas
O Ministério da Defesa Nacional (MDN) moçambicano suscitou algum entusiasmo no seio dos escribas ao emitir um comunicado oficial dando conta o “ataque terrorista” ocorrido na madrugada desta sexta-feira à vila de Macomia, Cabo Delgado, dando sinais do regresso aos tempos em que este pelouro comunicava oficialmente com o público sobre parte das suas actividades.
Alguns jornalistas acreditam ser este um sinal de que as suas inquietações chegaram a quem de direito, porque este assunto foi um dos levantados no mais recente encontro que o Primeiro-Ministro de Moçambique, Adriano Maleiane, manteve com um grupo de editores em Maputo.
Efectivamente, o MDN emitiu hoje um comunicado dando conta da morte de um “terrorista” e ferimento de “um dos líderes do grupo”, na sequência de uma refrega com as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
“O ataque durou cerca de 45 minutos e os terroristas foram prontamente repelidos pela acção coordenada das nossas forças, que obrigaram o inimigo a recuar, em direcção ao interior do posto administrativo de Mucojo”, lê-se num comunicado do MDN.
Na mesma informação é referido que o ataque aconteceu cerca das 04:45 locais e que, durante o “confronto”, as FADM “capturaram um terrorista e feriram um dos líderes, conhecido por ‘Issa’, que conseguiu escapar, não havendo registo de óbitos ou feridos por parte das Forças Armadas”.
“Posteriormente, o terrorista capturado veio a perder a vida por ferimentos graves”, lê-se, acrescentando que “neste momento continuam acções de perseguição e aniquilamento dos elementos residuais do inimigo”.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã, este ataque à sede distrital de Macomia, em Cabo Delgado.
“Apanharam uma resistência muito forte, durou quase 45 minutos com os meus jovens [militares das FADS]. E esses é que são os que me dão coragem”, declarou, durante um evento em Maputo.
“Resistiram 45 minutos e eles se retiraram. Acho que se organizaram mais um bocadinho, 50 minutos depois voltaram”, detalhou, acrescentando que pelo menos um atacante foi “capturado”, armado e “a disparar”.
Nyusi explicou que o ataque desta madrugada aconteceu numa zona que antes era controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até julho.
“É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (…). Como estão de saída. Espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso”, reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.
“Estão a responder positivamente. Já prevíamos”, apontou.
Os tiroteios na sede distrital começaram durante a madrugada, com os rebeldes a aparecerem no centro da vila, vindos da estrada de Mucojo, relataram fontes locais.
“Não estamos bem, os terroristas estão a atacar, chegaram de madrugada e não sei ao certo se morreu ou não alguém”, disse uma fonte a partir de um esconderijo, em Macomia.
As mesmas fontes indicaram que toda a vila sede distrital de Macomia estava tomada por mais de uma centena de insurgentes.
“Estou a dizer que os disparos estão a acontecer em todo o lado, os terroristas ocuparam a vila toda e ainda não saíram, não sabemos se é desta vez que querem ocupar ou não”, relatou a fonte.
Ao início da manhã, algumas lojas de venda de produtos de primeira necessidade e carros de transporte de passageiros, bens e comércio foram abandonados pelos proprietários, devido ao medo.
“Ninguém levou nada, tudo está abandonado, desta vez foi demais porque já estávamos a recomeçar”, lamentou um comerciante de roupa no centro de Macomia.
A vila de Macomia situa-se na estrada Nacional 1 (N1), que faz a ligação aos distritos mais ao Norte, casos de Muidumbe, Nangade, Mueda, Mocimboa da Praia e Palma, pelo que este ataque interrompe igualmente a comunicação por terra aos cinco distritos.
A província enfrenta desde Outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Depois de vários meses de relativa acalmia, desde o início do ano que novas movimentações e ataques de rebeldes voltaram a causar milhares de deslocados, mortes, destruição de casas e edifícios públicos.
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