Crispações na Frelimo?
Às portas do XI Congresso da Frelimo, que se irá realizar entre 26 de Setembro e 1 de Outubro de 2017, parece que se está perante um ambiente de se cortar à faca no partido que dirige os destinos dos moçambicanos desde a independência, em 1975, tudo por conta de vazamentos de documentos classificados do circuito judicial, para os jornais com destaque para as redes sociais.
Tudo começa com um documento com o timbre da Procuradoria Geral da República (PGR) que pede a quabra de sigilo bancário do antigo presidente Armando Emilio Guebuza (2005-2015) e de outras 21 pessoas próximas a ele, incluindo dois filhos seus, nomeadamente Ndambi Armando Guebuza e Mussumbuluko Armando Guebuza.
Este vazamento terá sido o mote para que um outro vazasse, dando conta de que Filipe Jacinto Nyusi, enquanto ministro da Defesa do consulado de Guebuza, tinha assinado pelo seu punho e letra documentos enviados a Manuel Chang (ex-ministro das Finanças e actualmente deputado) sobre a criação da empresa Proíndicus.
Algumas hostes daquele partido dizem-nos que a revelação deste último documento revela crispações na histórica Frelimo.
Guebuza não deve andar nada satisfeito com exposição aos níveis que chegou, perante um apático Nyusi, que ele próprio ajudou a entronizar no poder.
Primeiro, aquando da convocação de Guebuza para audição para a Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI) que investiga as dívidas oculdas originadas com a criação da Ematum, Proidíndicus e MAM sem conhecimento da Assembleia da República e dos parceiros doadores, é de que a mesma poderia ter sido evitada pela maioria que a Frelimo detém no parlamento.
A Renamo boicota esta comissão desde o início e o MDM tem lá apenas um membro, o deputado Venâncio Mondlane, contra 13 membros da Frelimo. Nessa audição à porta fechada, decorrida em Novembro, Guebuza teria afirmado que “faria tudo de novo” e que anuiu com a criação das mesmas para a defesa da soberania.
Um cientista político local acredita que o Congresso que poderá legitimar, ou não, Nyusi a uma outra reeleição pode estar minado, uma vez que Guebuza, enquanto secretário-geral e presidente da Frelimo, estabeleceu fortes relações de clientelismo com militantes da base. Terão sido essas relações de clientelismo que nos momentos cruciais da reunião do Comité Central que indicaram Nyusi como sucessor de Guebuza, fez com que os militantes não endossassem os seus votos a Luísa Diogo, uma reputada economista com passagem pelo Banco Mundial, pelo governo como vice e ministra das Finanças até ocupar o posto de Primeira-Ministra.
Até ao Congresso, esperam-se dias difícies para Filipe Nyusi, mesmo às portas da finalização da auditoria da Kroll, cujos resultados são esperados no final do mês e que poderão ditar se os parceiros doadores irão reabrir os seus cordões à bolsa, perante uma economia onde os menos favorecidos andam de cintos apertados.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Crispações agudizam-se na Frelimo?
Luís Nhachote
Este artigo foi publicado em primeira mão no dia 20 de Abril de 2017 no jornal Correio da manhã, na sua versão em PDF, na rubrica semanal DO LADO DA EVIDÊNCIA.