DDRecar

DDRecar – Na minha língua materna – changana –, quando alguém anda aos zig-zag, basicamente consequência do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, se diz que está a “dederecar” (cambalear).

Pode ser o que está a acontecer com o processo oficialmente iniciado no dia 01 de Agosto de 2019 nas matas de Sofala e consolidado em Maputo, através do que se decidiu designar de Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação Nacional e que contempla o esforço de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).

A avaliar pelos relatos ou queixumes que têm vindo a público, tudo indica que este DDR leva consigo um sufixo “ecar”, para a felicidade de quem sempre a ele se opôs e desencorajou adesão nele: o major-general da RENAMO Mariano Nhongo, para quem este processo é uma “fantochada” e por isso para ser denunciado e combatido.

Também Ossufo Momade, o líder oficial da RENAMO, subscritor do Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação Nacional com Filipe Nyusi, da Frelimo/Governo, amiúde se queixa da contraparte neste pacto por alegada desonestidade e falta de seriedade.

São falhas no cumprimento do calendário do próprio DDR, sob os mais variados pretextos, alguns dos quais caricatos. Aqueles que já foram desarmados e desmobilizados tem a reintegração como miragem, incluindo falhas nos pagamentos de pensões/subsídios.

Já se pode imaginar a vulnerabilidade de um Homem esfomeado, ainda mais com formação militar e, provavelmente, possuidor [algures] de uma arma de fogo ou conhecedor de esconderjo(s) de artefactos bélicos.

A marcar o fim de uma visita a oito distritos da província central de Sofala, que foi sempre baluarte político da RENAMO, o gabinete de Ossufo Momade mandou emitir a 07 deste Setembro, um comunicado no qual denuncia a continuação de “perseguições, sequestros e assassinatos” como “método privilegiado usado pelo regime do dia para silenciar os membros” deste partido.

Depois de recordar que foi em Sofala que logo a seguir à proclamação da independência de Moçambique, em Junho de 1975, “onde surgiram os primeiros sinais de moçambicanos que com coragem e determinação decidiram romper com as algemas do sistema marxista-comunista”, o comunicado do Gabinete da Presidência da RENAMO denuncia que durante a visita aos distritos de Nhamatanda, Marromeu, Caia, Maringue, Gorongosa, Búzi, Chibabava e Machanga, Ossufo Momade detectou um cenário “verdadeiramente chocante”.

Até as actividades políticas do próprio Ossufo Momade – reunião com seguidores – foram dificultadas por elementos supostamente a soldo do partido Frelimo, de acordo com a denúncia.

Ilustrando a alegada desonestidade, falta de seriedade e intolerância do partido Frelimo, a RENAMO diz que “como negação da democracia, a Assembleia Autárquica da Vila de Morromeu está mergulhada num autêntico caos, pois está a funcionar ilegalmente, com a Frelimo a pontapear a Constituição e a lei sob olhar impávido e conivente do Ministério da Administração Estatal e Função Pública que escusa-se a parar com aquelas arbitrariedades”.

A lista de lamúrias da RENAMO é extensa e inclui nomes e locais de praticantes e/ou onde alegadamente o partido Frelimo protagoniza ilegalidades e lança um veemente apelo:  exortamos ao senhor Filipe Jacinto Nyusi para que mande parar os actos cruéis e desumanos que têm criado intranquilidade, desordem e luto nas famílias moçambicanas.

Perante isto tudo, Mariano Nhongo, que não reivindica nenhum ataque desde Dezembro de 2020, quando unilateralmente anunciou uma trégua, volta à baila e por via dos media e anuncia que os seus efectivos estão em crescendo, que jamais será capturado e confirma que rejeitou uma oferta de quatro milhões de dólares norte-americanos oferecido por Mirko Manzoni, representante especial do Secretário Geral da ONU no processo de paz em Moçambique.

“Se estivesse preocupado com dinheiro teria invadido vários sectores comerciais locais, até actividades de garimpo aqui existentes, que movem grandes valores monetários, mas nós temos objectivos como RENAMO”, disse Nhongo, acrescentando que Manzoni fez mais tentativas para convence-lo a aderir ao DDR, todas recusadas.

De resto, Manzoni tem sido alvo de chacota em alguns círculos, mesmo nos conotados com o regime de Maputo.

A narrativa oficial diz que o processo de DDR decorre a bom ritmo. (DDRecar)

A MINTHIRU IVULA VULA KUTLHULA MARITO! Os actos valem mais que as palavras!  Digo/escrevo isto porque que ainda creio que, como em anteriores desafios, Moçambique triunfará e permanecerá, eternamente.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo intitulado “DDRecar”  foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 10 de Setembro de 2021, na rubrica de opinião denominado TIKU 15

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