Descrédito
Descrédito – Busquei, em diversas fontes, os sinónimos e/ou palavras relacionadas de descrédito. Encontrei alguns/algumas, muito(a)s e todo(a)s eles(a), infelizmente, feio(a)s. Muito feio(a)s.
Eis parte deles/as: desaparecimento ou perda de crédito; desmerecimento ou desconsideração; desconceito, fama censurável, má fama, desonra, desconceito, infamação, infâmia, difamação, labéu, desabono, vergonha.
Posto isto, estou a imaginar um pai que caiu no descrédito dos próprios filhos! Deve ser um desconforto monumental, se em tal pai ainda restar um pingo de pudor.
Mas acredito que não deve ser à toa que os filhos acabam perdendo crédito no próprio pai. Há de ser, de certeza, por uma sucessão de inverdades, desonestidades, burlas, falsidades e outras coisas de vergonha que o dito progenitor terá praticado perante ou para com os filhos, pensando que por serem seus filhos, não passavam de meros mentacaptos.
Quem diz pai pode dizer instituição ou uma cadeia delas, digamos, um Governo.
Estou a imaginar um governo ou membros deste a caírem no descrédito dos seus governados, ao ponto de estes encararem os seus actos e/ou pronunciamentos com descrença ou cepticismo. Deve ser o fim da picada.
Tenho acompanhado nas redes sociais comentários de cidadãos de um país, devidamente identificado, a expressarem desconfiança das proclamações e actos do respectivo governo em torno de uma pandemia que flagela meio mundo e perante a qual ninguém devia mentir ou omitir para outrem.
Nos restantes países estão em marcha medidas extraordinárias para conter e eliminar tal pandemia, mas nesse país anda tudo relaxado, com atitudes meramente cosméticas, porque se diz que ninguém está infectado.
Talvez como a maioria dos cidadãos desse país não tem capacidade para a famosa “corrida aos supermercados”, deve ser para evitar uma eventual “corrida aos contentores”, se é que há pujança para tal…
O cepticismo dos cidadãos desse frágil país, em diversos aspectos, incluindo o sanitário, se baseia no facto de quase todos os países vizinhos já terem pessoas infectadas por essa pandemia e a dita nação sortuda a dizer que nela NADA CONSTA e a optar por medidas brandas, quando os restantes fecham fronteiras, suspendem determinadas actividades, eventos e actos.
Na nação sortuda as precauções nas fronteiras são quase nulas, internamente se viaja em meios de transportes colectivos que parecem uma piada de mau gosto, e, como forma de prevenir a pandemia se aconselha a se evitar apertos de mãos, abraços, beijos e apenas realizar concentrações com um máximo de 299 pessoas.
As aulas continuam normalmente nesse país, os voos provenientes de países assumidamente infectados entram à vontade e só não o fazem as companhias que não o queiram.
Nesse país, para prevenir a pandemia até aparecem figur(ante)s públicas a apelar a quem eventualmente tenha sintomas de coronavirus a SE DIRIGIR À UNIDADE SANITÁRIA MAIS PRÓXIMA, enquanto nos outros países se apela para o confinamento e se fazer um telefonema ao corpo de agentes de saúde e evitar se deslocar para onde tem outras pessoas.
Terão, os cidadãos desse país sem um único infectado, oficialmente, motivos para tamanho descrédito? Até pode ser que não haja infectado algum mesmo nessa pérola. Deus não deixa um indigente que se alimenta no contentor de lixo apanhar cólera, salvo raríssimas excepções.
Para consolação desse pai, instituição, Governo ou seu agente, nos apoiemos numa lendária frase de Fernando Pessoa:
Em certos casos, quanto mais nobre é o génio, menos nobre é o destino. Um pequeno génio ganha fama, um grande génio ganha descrédito, um génio ainda maior ganha desespero; um deus ganha crucificação.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 20 de Março de 2020, na rubrica semanal TIKU 15!
Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Correio da manhã favor ligar para 21 305323 ou 21305326 ou 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz
Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais.
Gratos pela preferência