Desgraça mundial de negros
Desgraça Tive sorte durante a infância na minha aldeia. Não senti os efeitos da descriminação racial colonial europeia. Os meus pais estavam no interior do país, sem grande influência da presença de brancos, mas sofreram com a cultura forçada de algodão.
Na minha aldeia não havia parques ou jardins infantis onde nós crianças podíamos ter brincado ou cruzado com filhos de brancos. Brancos só víamos quando fossemos às cantinas vender castanha ou mafura. As cantinas ficavam longe da aldeia.
Os meus pais, particularmente, a minha mãe respeitava os brancos cantineiros e nós crescemos com esse respeito, sem saber ao certo se os cantoneiros tinham algum respeito connosco.
Apenas sei dizer que havia um cantineiro que meu pai considerava amigo e costumava vir de carro levar sacos de castanha bruta.
O meu pai trabalhou mais de 40 anos nas minas da África do Sul. Ele falava daquilo que chamava colour bar ou barreira de cor.
Eu não tinha mínima ideia do significado de colour bar.
Sabia que nas minas todos os brancos eram chamados boss – chefe – por negros e eles tratavam-lhes de piquinin – pequenino – independentemente da idade de trabalhador.
Com cerca de 12 anos ou 13 anos de idade, testemunhei a comemoração da independência do país, da minha aldeia.
O fundador do Estado independente falava publicamente em voz alta de igualdade entre os homens, independentemente da cor da pele, tribo, crença religiosa, região, extracto social ou económico. Éramos todos iguais no Estado recém-independente.
Mas na África do Sul não havia igualdade entre os homens.
Os negros eram seres humanos considerados inferiores por brancos. Quando passei a viver na África do Sul há mais de duas décadas, a segregação racial institucionalizada acabava de ser oficialmente desmantelada.
Entretanto, negros sul-africanos ainda tinham muito rancor.
De nada valia a minha tentativa de falar com meus colegas de profissão sobre a realidade da minha aldeia relativa à reconciliação entre negros e brancos. Cada vez que falava, sul-africanos ficavam bravos, dizendo que as feridas provocadas pela descriminação racial eram muito profundas.
As grandes potências europeias e Estados Unidos da América desafiaram as sanções da comunidade internacional contra o regime minoritário racista na África do Sul que oprimia negros.
São quase os mesmos que traficaram negros como mercadoria para usá-los como força de trabalho gratuita.
Mais de 12 milhões de africanos foram traficados para Europa e para América e jamais voltaram aos seus países de origem.
Negro é carne de canhão de brancos em todo o Mundo.
Mesmo chineses que eram considerados melhores amigos dos negros africanos mostraram recentemente a sua verdadeira face com ataques violentos contra negros na China.
Na conferência mundial Contra Racismo, Descriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Relacionada realizada em 2001 na cidade de Durban, organizada pelas Nações Unidas, os países europeus recusaram assinar a declaração final considerando a escravatura e o colonialismo como crimes contra a humanidade.
Forçaram a mudança de linguagem no texto final.
Portugal, que teve cinco colónias em África, fez-se representar na conferência de Durban com uma delegação de nível mais baixo.
A sistemática morte de negros nos Estados Unidos, de Donald Trump, mostra o elevado nível da desgraça mundial de negros.
Negros, unai-vos trabalhando e gerindo com honestidade vossos imensos recursos porque o racismo jamais vai acabar no Mundo.
THANGANI WA TIYANI
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 03 de Junho de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE
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