Desnutrição em Moçambique

O combate contra a desnutrição crónica em Moçambique, principalmente em crianças menores de cinco anos, está a se revelar numa “batalha quase perdida”. O Governo reconhece que as estratégias estão a falhar.

Consta que o plano inicial traçado pelo Governo moçambicano era de reduzir o índice de desnutrição crónica em crianças de cerca de 45% em 2008, para até 30% em 2015, porém, a meta não foi alcançada, pois até 2016, a taxa fixara-se nos 43%.

Em entrevista ao Correio da manhã, a chefe do Departamento de Nutrição do Ministério da Saúde (MISAU) Marla Amaro, admitiu que “o problema é sério” e que o Governo deve procurar novas estratégias a médio prazo para evitar “males maiores”, em particular, na região Centro e Norte do país, onde o índice de petizes malnutridos tende a disparar a cada ano.

Cabo Delgado, Niassa e Nampula (Norte do país), e Zambézia e Tete (Centro) formam o quinteto das províncias moçambicanas, cujas taxas de crianças com desnutrição crónica são mais altas.

“Infelizmente, apesar do enorme esforço do Governo e de parceiros, a desnutrição crónica no país estagnou, ou seja, não se registam melhorias. A taxa média permanece nos 43% já há uma década”, explicou Marla Amaro.

A nossa interlocutora acrescentou que a malnutrição durante a infância tem um efeito duradouro nas hipóteses de sobrevivência e desenvolvimento da criança.

Em Moçambique, cerca de 45% das mortes de crianças menores de cinco anos estão associadas a esta doença.

“Uma criança desnutrida também apresenta menores probabilidades de um bom aproveitamento escolar e é mais susceptível de contrair infecções e de sofrer de doenças crónicas na idade adulta”, salientou.

Entretanto, no entender de alguns nutricionistas, a desnutrição não é apenas um simples resultado da ingestão de muito poucos alimentos, mas de uma combinação de factores, nomeadamente, a insuficiência de proteínas, energia e micronutrientes, infecções ou doenças frequentes, maus cuidados e más práticas alimentares, serviços de saúde inadequados e água e saneamento impróprios.

Impacto no PIB & Aleitamento materno

De referir que a malnutrição também tem um impacto na sociedade em geral e no crescimento económico do país. Todos os anos, um valor estimado em 16 biliões de meticais do Produto Interno Bruto (PIB) é desperdiçado em Moçambique devido a esta doença, segundo as Nações Unidas.

Em contrapartida, estima-se que as crianças bem nutridas podem contribuir em até 11% no PIB do país.

A nível global, novas pesquisas mostram que um investimento de USD 4,70 por cada recém-nascido poderia gerar benefícios económicos de aproximadamente 300 mil milhões de dólares norte-americanos até 2025.

Marla Amaro, chefe do Departamento de Nutrição do Ministério da Saúde (MISAU)
Marla Amaro, chefe do Departamento de Nutrição do Ministério da Saúde

Porém, para se alcançar esses ganhos, a Global Breastfeeding Collective, uma nova iniciativa para aumentar as taxas mundiais de amamentação acaba de concluir que o aleitamento materno é, a par da Vitamina A, o melhor método para a boa nutrição das crianças, principalmente em países subdesenvolvidos como Moçambique.

A organização defende que caso o Governo moçambicano opte por maximizar as suas estratégias de aleitamento materno poderá recuperar as perdas milionárias no PIB (cerca de 16 biliões de meticais/ano) provocadas pela desnutrição crónica.

A Global Breastfeeding Collective, que avaliou 194 nações, revela que apenas 40% das crianças menores de seis meses são amamentadas exclusivamente no mundo (unicamente leite materno) e apenas 23 países têm taxas de aleitamento materno exclusivo acima de 60%, reduzindo, deste modo, os casos de desnutrição crónica das crianças.

Em Moçambique a taxa do aleitamento é estimada em 43%.

Várias pesquisas desenvolvidas sobre a matéria revelam que o coeficiente de inteligência numa criança bem alimentada com o leite materno é maior. Ou seja, essa criança terá maior capacidade de absorver os conhecimentos durante a sua formação e, por conseguinte, será um técnico que melhor contribuirá para o desenvolvimento económico do país.

EDSON ARANTE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF da edição (Nº 5130) de 04 de Agosto de 2017 do jornal Correio da manhã de Moçambique

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