Detenções cosméticas
As detenções contra os promotores das dívidas inconstitucionais e outros, são de intenções suspeitas e levianas. Não há informação que indique as contas bancárias dos detidos tenham sido canceladas e os seus bens adquiridos através de dinheiro roubado estejam arrolados e em poder do Ministério Público.
A continuar assim, quando chegar o dia libertação, e tudo indica que será logo a seguir às eleições de 15 de Outubro, cada um sai da prisão e vai para a sua mansão, sem quaisquer escoriações, porque as suas detenções visam, exclusivamente, para impressionar os eleitores menos atentos, os mais distraídos.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) aparece como o elo mais fraco por parecer não possuir nenhuma autonomia de exercer a acção penal, sua principal função que consiste em velar pela legalidade.
Ao agir desse modo, a PGR transmite uma mensagem de que está a brincar com os moçambicanos que esperam das instituições de justiça seriedade e não está preparada para seguir a meada do problema até ao fim.
A PGR evita tocar nos cabecilhas do calote. Tudo que aconteceu nesta fraude, havia alguém que dava ordens para virar à esquerda, à direita ou avançar e esse ninguém se atreve a deitar-lhe a mão em cima.
O comandante da operação da maior fraude financeira que jogou o nosso país na sarjeta é Armando Guebuza, que, à data desses acontecimentos, era chefe de Estado. Ele não está inocente nessa roubalheira. O dinheiro roubado chegou aos filhos, amigos, secretárias, amantes, esposas, conselheiros e polícias. Era sintomático que aquisição de armamento de um país fosse entregue a parentes do Presidente da República. Teria que ser só uma grande máfia.
Até dirigentes do SISE se beneficiaram da roubalheira. O povo pensa que pode dormir em paz porque tem a polícia que o protege, porém, no nosso país é o próprio polícia que rouba.
O grupo de Guebuza tinha assumido que aquilo já não era roubo, mas sim, levar para casa, segundo a sorte e esperteza de cada um.
Na Presidência da República, no tempo de Guebuza, havia torneiras que jorravam dólares para qualquer que girava à volta do chefe. Filipe Nyusi, então ministro da Defesa, também comeu. Há documentos autênticos que comprovam isso.
Em correspondência, ele recomenda ao ministro das Finanças, Manuel Chang, detido na África do Sul, a pedido do FBI, polícia federal americana, a avançar com o processo de fraude. A PGR teve medo de perguntar a Nyusi sobre esta matéria, mesmo mentindo, nada lhe aconteceu.
Um outro importante sinal dado pela PGR é tentar convencer as autoridades norte-americanas para deixarem Chang voltar para ser “julgado” pelos seus camaradas. O esforço empreendido pela bancada parlamentar do partido Frelimo, Tribunal Supremo e da PGR era para libertar Chang e trazê-lo à “pátria amada” e enterrar o assunto. Nós formulamos votos para Chang avance para os Estados Unidos para denunciar todo o esquema do golpe económico-financeiro e os seus autores sejam punidos de verdade.
Discordamos da metodologia da PGR.
Helena Taipo, recolhida à prisão, acusada de desvio de 100 milhões de meticais, mas Setina Titosse, condenada em sede de julgamento, continua a passear a sua classe em hotéis, como promotora de eventos.
E mais, diz-se que Renato Matusse recebeu 8,5 milhões de dólares norte-americanos, continua livre. Amélia Sumbane, ex-embaixadora de Moçambique em Washington, esperou em liberdade até ao julgamento. Quanto a Helena Taipo, o tribunal decidiu de modo diferente. Porquê?
Isaque Chande, Provedor de Justiça, disse que a detenção de Helena Taipo demonstra que ninguém é impune. É uma grade mentira. Isso é falta de conversa. Chande sabe muito bem que o chefe da quadrilha das dívidas ilegais está fora e a passear a sua classe. Dois pesos, duas medidas!
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 25 de Abril de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
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