Deusa faz história na RAS
Deusa – Tem 25 anos de idade e trabalha na mina de ouro da multinacional sul-africana Sibanye Gold Stillwater, na região aurífera de Carletonville, cerca de 100 quilómetros a oeste da cidade de Joanesburgo.
Deusa Mário Macie, começou a trabalhar como “toupeira” quando tinha apenas 23 anos de idade em substituição do seu tio que morreu vítima de doença.
A companhia mineira permite substituição por familiar mais próximo de malogrado, incluindo esposa, desde que tenha idade e capacidade para aguentar o duro trabalho de mina.
Geralmente, a substituição é permitida quando o trabalhador mineiro morre em acidente de trabalho.
Em conversa telefónica com o jornal Correio da manhã, Deusa Mário Macie disse que nos primeiros dias teve medo e chorava quando descia para as profundezas da galeria da mina.
“Telefonava para a minha mãe em Macia, dizendo que estava com medo de trabalhar debaixo da terra e não queria mais descer”, disse a jovem mineira, acrescentando que a sua mãe lhe encorajava a continuar.
Deusa Macie contou que tinha mais medo de escuridão, porque achava que a iluminação de lanternas, os vulgos “lamps” ou lambo (corruptela em fanakalou – crioulo usado nas minas da África do Sul), que colocam nos capacetes é muito fraca para maior visibilidade no interior da mina.
Um dos panoramas do interior da mina de Sibanye Gold Stillwater
Entretanto, hoje Deusa já não tem medo e contou o seu passado com no meio de risos, dizendo que trabalha oito horas consecutivas a centenas de metros de profundidade como assistente de capitão de mineração na companhia Sibanye Gold, unidade de produção número 1 em Carletonville.
Deusa Macie é primeira sorte dos quatro filhos do seu pai, um oficial mineiro na mesma companhia Sibanye Gold.
A sua irmã mais nova está a frequentar o quarto ano do curso superior de Administração Pública, em Moçambique.
Para a jovem mineira, as coisas mudaram. Agora não há trabalho exclusivo de homens que não pode ser feito por mulheres.
Entretanto, Deusa Mário Macie apela aos jovens, particularmente mulheres, a darem maior prioridade à escola, porque sem formação a vida é muito difícil.
Deusa parou nas minas depois de reprovar na décima classe. Disse que tem namorado moçambicano que trabalha no Aeroporto Internacional de Maputo e planeiam ter filhos. A sua vontade é que quando os filhos ainda forem pequenos vão ficar com ela na África do Sul.
De acordo com a chefe do departamento financeiro e do pessoal na delegação do ministério moçambicano do trabalho, emprego e segurança social na África do Sul, Isaura Muianga, Deusa é a trabalhadora mais jovem dos cerca de 20 mil mineiros de Moçambique na África do Sul.
Isaura Muianga passou cerca de uma semana no KM-7, em Komatipoort, perto da fronteira de Lebombo/Ressano Garcia durante a recente quadra festiva, a acompanhar e a facilitar na tramitação célere de documentos de viagem e bens dos mineiros para passarem festas de Natal e do final do ano com seus respectivos familiares em Maputo, Gaza e Inhambane, maiores fontes de mão-de-obra mineira.
Deusa Mário Macie com Isaura Muianga
Os mineiros chamam Isaura Muianga de madrinha e ela tem defendido que mineiros são trabalhadores como outros em Moçambique, sendo que a diferença é apenas do local de actividade.
Muianga diz que há muitos quadros moçambicanos em vários sectores chave da economia do pais filhos de mineiros formados por dinheiro ganho pelo trabalho árduo das minas sul-africanas.
O recrutamento formal de moçambicanos para indústria mineira sul-africana começou no início da década de 1900, sendo que actualmente o pais tem cerca de 20 mil trabalhadores, maior parte dos quais na região de platina, em Rustenburg, província de North West.
THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL