Dhlakama endurece tom

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, afasta a hipótese de membros do maior partido de oposição integrarem o Governo moçambicano e insistiu que não vai abandonar a reivindicação de assumir o poder nas províncias onde reclama vitória eleitoral.

“Nós não precisamos nem queremos entrar no Governo da Frelimo, partido no poder. Não pensem que vamos aceitar o que se fez no Quénia ou no Zimbabué com Tsvangirai. Não queremos governo de unidade nacional”, afirmou Dhlakama em entrevista hoje publicada no semanário Canal de Moçambique.

O líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) reiterou que defende uma revisão pontual da Constituição e que um acordo a ser alcançado com o Governo deve ser submetido ao parlamento para que o seu partido comece a exercer o poder nas seis províncias do centro e norte do país.

“Vamos governar as nossas províncias com as nossas políticas. Não queremos dividir o país, só queremos que transfiram os poderes dos governadores da Frelimo para os da Renamo”, disse Dhlakama, referindo que, “ao fim de cinco anos”, haverá novas eleições.

A Renamo não aceita os resultados das eleições gerais de Outubro de  2014, alegando fraude, e exige governar as províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia, centro do país, e Niassa e Nampula, no norte, onde reclama vitória no escrutínio.

Quando a Renamo contestou as eleições, no final de 2014, Dhlakama propôs a criação de um governo de gestão com a Frelimo, mas a sugestão foi rejeitada pelo partido no poder e depois abandonada pela própria força da oposição.

Nos últimos meses, a região centro de Moçambique tem sido atingida por confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.

Na entrevista ao Canal de Moçambique, Dhlakama admitiu a autoria de ataques da Renamo no passado fim de semana à vila sede de Mopeia, província da Zambézia, e a abertura de uma nova frente de confrontação na província de Niassa.

“Foi atacada uma esquadra em Maúa, no Niassa, pois abrimos uma frente lá na semana passada”, disse o líder da oposição, aludindo a uma província onde eram raros os episódios de violência política.

As negociações de paz foram suspensas no final de Julho, após a partida dos mediadores internacionais, mas Dhlakama diz ter garantias de que vão voltar para a retoma das negociações a 08 de Agosto.

“Os mediadores, quando vinham, estavam com aquela expectativa de que em três dias as coisas estariam resolvidas. Acredito que voltaram para se preparar”, declarou, comentando igualmente as questões logísticas apontadas pelo chefe dos mediadores, Mario Raffaelli, no momento em que anunciou a suspensão.

Para o líder da oposição, a suposta falta de condições logísticas, nomeadamente pagamento de despesas, revela “má-fé do Governo”, e, desde a partida dos mediadores, avançou, não há contactos entre as delegações, apesar de ter ficado um assunto pendente.

Esse assunto, segundo Dhlakama, está relacionado com a criação de condições de segurança para um encontro pessoal com os mediadores na serra da Gorongosa, centro do país, onde presumivelmente se encontra desde o final do ano passado.

“Havia uma ideia que foi explorada, que é a possibilidade de darmos tréguas ao nível da Gorongosa, onde eu moro, como forma de permitir a circulação dos mediadores”, afirmou.

Um cessar-fogo generalizado depende, porém, de os “irmãos do outro lado mostrarem interesse e boa-fé”, recusando uma trégua com um adversário que lhe aponta um canhão.

“É o que eles têm feito aqui na Gorongosa. Quando nos atacam, pensam que estão a pressionar-nos e que Dhlakama vai levantar as mãos. Se o inimigo nos ataca, temos de responder para dispersá-lo”, declarou o líder da Renamo, que abordou ainda a sua imagem junto dos simpatizantes do partido.

“Olha, meu irmão Matias [jornalista], não brinques com essas coisas. A imagem do Dhlakama é brilhante, a sua reputação é brilhante. Não digo que sou Deus, mas sou brilhante”, descreveu-se.

 

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