Duplo tributo à cidade de Maputo e à obra de Michahelles

A exposição fotográfica “Porto de Pesca” patente no auditório do Edifício-Sede do BCI, em Maputo, é, segundo o autor, Mário Forjaz Secca, um duplo tributo: à cidade de Maputo e à obra da artista Dana Michahelles.

Na realidade, “o conceito da exposição é dar uma visão do Porto de Pesca de Maputo, através principalmente dos seus pescadores, que para mim tem uma dimensão mítica desde a minha infância, em grande parte propulsionado pelos desenhos a tinta da china, no Porto de Pesca, feitos pela Dana Michahelles”, afirmou Mário Secca.

E confessou: “ela tinha uma série de desenhos sobre o porto, que sempre me fascinou […]. A Dana desenhou o porto a preto e branco, eu fotografo a cores, numa continuidade do seu trabalho, no continuado carinho, beleza e fascínio por este porto por esta cidade, a minha eterna e sempre cidade”.

O poeta resgata, nesta mostra, uma voz que, através do desenho, gravou memórias de Lourenço Marques. Natural da Itália (1933-2002), Dana Michahelles viveu longamente em Moçambique e foi conhecida essencialmente pelos desenhos da paisagem urbana da Cidade das Acácias.

A título de curiosidade, Forjaz Secca citou, na cerimónia de inauguração da exposição, um outro fotógrafo moçambicano, Vladimir de Sousa que, mesmo antes da abertura da exposição, fizera um comentário: “é curioso porque o Vladimir estava a olhar para aquilo e, sem eu lhe dizer nada, disse exactamente isso: ‘épá que confusão aqui os barcos, os mastros…’, eu já tinha o texto escrito, antes de ele dizer isto, achei muito engraçado (risos). Porque é exactamente o que me marcou nos desenhos da Dana e que depois acabei por exprimir exactamente da mesma forma”.

E como escreveu o crítico de arte Leonel Matusse Jr.  “é, parece claro, um defeito de fabrico da arte, tornar belo o caos a gerar vozes num click, que tanto gritam como os pescadores e marinheiros da travessia Inhambane-Maxixe que canta o Jaco Maria”. E afunilou o seu olhar sobre a mostra: “no cais onde Ricardo Rangel aprofundou a ideia de liberdade, recebendo vinis de jazz, que na verdade retornavam ao seu porto de partida (claramente, uma metáfora), o poeta pousou o olhar, apontou a retina da sua câmara e registrou o eterno que é a imagem do pescador a puxar a rede com o peixe que comemos enquanto lemos as notícias no Facebook e algures onde navegam e cantam as ondas da internet”.

Ainda a propósito da mostra, algo em comum junta a artista Dana Michahelles, o fotógrafo e o Edifício-Sede do BCI, como testemunhou o próprio Mário Secca: “devo manifestar um imenso prazer em expor aqui neste edifício, desenhado pelo escritório de Mateus José Forjaz, que era um dos grandes amigos da Dana, tornando esta exposição, neste local também, uma espécie de portal entre o passado e o presente, numa união das artes”.

Redactor

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