“Eles” e “Nós”

“Eles” e “Nós” – O presidente do partido Frelimo, falando para os seus camaradas da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACCLIN), na cidade de Quelimane, no dia 09 de Junho corrente, disse que “nós recenseamos e eles não se recensearam”. Quem são esses “nós” e quem são “eles” que Filipe Nyusi se referiu?

Com essa dissertação, ficam cristalinas as razões que levaram o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) a ter que deixar com grande realce daqueles potenciais eleitores que vivem nas zonas ou regiões onde a oposição tem maior aceitação que o partido no poder. É dentro deste contexto de exclusão prévia que vão decorrer as eleições de 15 de Outubro próximo.

Fica confirmada a nossa tese de que os conflitos pós-eleitorais são o resultado do trabalho mal feito e partidário do STAE. Não duvidamos de que o partido Frelimo montou armadilhas que lhe permitirão vencer, de maneira fraudulenta, estas eleições.

O STAE subtraiu assentos parlamentares dos círculos eleitorais dominadas pela oposição, transferindo-os para Gaza, sem nenhuma razão que o justifique. A província de Gaza saltou de 14 assentos em 2014 para 23 em 2019, a província onde a Frelimo tem ficado com 100 porcento dos assentos disponíveis. Não há qualquer margem de dúvida de que se trata de uma grande fraude organizada pelo STAE para beneficiar o partido no poder, do qual recebe, orientações e ordens.

É o governo que disse para o STAE agir de tal modo, pois, este é o braço do governo e o governo é do partido Frelimo no Estado. Agora, parece que todo o truque do STAE fica bem explicado – trata-se de mais uma manobra para beneficiar o partido governamental. Esses tipos já perderam a vergonha, se alguma vez a tiveram. Pesando bem as nossas palavras, afirmamos que o STAE é o laboratório onde o partido Frelimo fabrica fraudes eleitorais e ponto de partida dos conflitos.

Nada pode justificar que tivesse havido tanta emigração para a província de Gaza. Não há nenhuma razão económica, como por exemplo o surgimento de grandes empreendimentos económicos capazes de justificar a avalanche das populações para Gaza. A única motivação que se pode encontrar é política de favorecimento ao partido no poder, portanto, o recenseamento efectuado pelo STAE foi grave e altamente fraudulento. Como se pode explicar que a província da Zambézia tenha perdido, numa só sentada cinco assentos, Nampula perdeu dois, Maputo- Província ficou sem três, Maputo – Cidade perdeu dois? – Não existe uma resposta aceitável deste fenómeno. A resposta só pode ser dada pelo STAE. Aqui reside o motivo por quê o governo quer, a qualquer preço, manter o STAE no Ministério da Administração Estatal e Função Pública que é para assegurar a vitórias retumbantes do partido Frelimo e do seu candidato.

Chegado a isso, podemos entender o alcance das palavras de Filipe Nyusi. O “eles” refere aqueles que não têm conexões com o STAE, aqueles que ficaram prejudicados com a jogada dos “rapazes” de um regime corrupto e de trapaceiros. São aqueles que andam, como gado, em “my loves” e sentem as amarguras das dívidas inconstitucionais. São aqueles contra quem a PRM faz investidas por pretenderem vigiar o seu voto de modo a evitar o sentido da sua genuína escolha não seja alterada. Não têm pão, os seus filhos estudam ao relento, encurvados ao chão. São os trabalhadores que partem da casa de madrugada para o trabalho e regressam ao fechar da noite, por falta de transporte.

E “nós” são eles mesmos. Não há uma outra definição especifica. São os convidados ao festim do poder, que vivem sugando o povo que é jogado em valas comuns ou para o fundo do mar, quando mostrem sinais de discórdia. São os que julgam que a alternância são eles próprios, por isso, tudo fazem para se perpetuarem no poder mesmo tendo visto a cartolina vermelha. São eles que julgam que o povo seja estúpido, incapaz de ver o mal que lhe causam por má governação, roubo e saque do bem comum. São os promotores da nossa pobreza colectiva e paralisaram o país desde que ascendeu à independência e ganham as eleições com recurso às fraudes. São eles que trazem no seu estômago os órgãos da justiça para se manterem impunes e intocáveis. “Nós” são eles e “Eles” é o povo que escravizam e despojam.

Não pode haver melhor esclarecimento que a carta que a Procuradora-Geral da República, endereçada a embaixadora do Reino da Suécia, nas Nações Unidas, Irina Schougin Nyoni, onde se pode ler o seguinte “ Permita que partilhemos a nossa principal dificuldade, o envolvimento de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, em todo este processo, sendo um dos conceptores e envolvidos em godo o processo” – 10 de Maio de 2017. Assinado Beatriz Buchili. Procuradora-Geral da República.

Há dúvidas quanto ao envolvimento de Filipe Nyusi na contração das dívidas inconstitucionais?

EDWIN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 20 de Junho de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO

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