Eles são “molwenes”

Eles são “molwenes”

A tentativa de rotular manifestantes como “molwenes” ou de deslegitimar o movimento popular de protesto neste país representa uma afronta aos direitos fundamentais do povo. Tal atitude não é apenas desrespeitosa, mas também perigosa, pois procura distorcer a luta genuína por justiça e democracia. 

Chamar os manifestantes de “molwenes” é uma estratégia que visa trivializar os esforços de cidadãos que arriscam suas vidas para exigir um país mais justo e inclusivo, onde as autoridades sejam responsabilizadas por suas acções, incluindo as graves acusações de fraude eleitoral, violência, raptos e repressão.

Reduzir o protesto à imagem de baderna, brincadeiras de mau gosto ou meninice é, em essência, uma manobra para desviar o foco das questões essenciais. Em Moçambique, como em qualquer Estado democrático, o direito à manifestação pacífica é um pilar que garante a possibilidade de contestação das injustiças e abusos de poder. 

Esses manifestantes, que frequentemente enfrentam repressão e intimidação, estão exercendo o direito legítimo de questionar um sistema que, para muitos, falha em representar os interesses da maioria e, em vez disso, beneficia uma minoria privilegiada. Pode-se parar uma simples manifestação, mas difícil é parar um movimento popular, se quiserem experimentar. Verão! 

Ao ignorar as razões subjacentes para o protesto – a luta contra as fraudes eleitorais, as mortes inexplicáveis, os raptos que ocorrem sem respostas das autoridades – perde-se a oportunidade de promover o diálogo e a mudança que poderiam verdadeiramente transformar o país. Transformar essa indignação popular em perturbação é mascarar a realidade e silenciar vozes que clamam por dignidade e direitos humanos.  

Assim, é imperativo reconhecer e respeitar esses movimentos populares como parte da luta democrática e da busca por justiça.

Tentativas de descredibilizar os protestos só aumentam a desconfiança pública nas instituições e aprofundam o hiato entre o povo e seus representantes.

Em vez de minimizar esses esforços, deveríamos celebrá-los como expressões vivas de um povo que acredita na possibilidade de mudança e no poder da voz colectiva contra a injustiça. “A luta continua !”

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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