Evidências científicas devem se sobrepor à desinformação
A problemática da desinformação á volta dos produtos de risco reduzido no consumo de tabaco continua na ordem do dia. Por isso, a sexta Cimeira sobre Redução dos Danos do Tabaco (THR, na sigla em inglês), que teve lugar de 25 a 26 de Setembro último, em Antenas, capital grega, não podia passar à margem do tema, quando, em várias partes do mundo, a desinformação continua a levar os fumantes a prescindirem do uso das novas formas de consumo de tabaco, com riscos reduzidos.
Por isso, a Cimeira deste ano, que decorreu sob o lema “novos produtos, pesquisas e políticas”, dedicou, logo no dia da abertura, uma das três sessões do dia para discutir “Desinformação sobre THR”. Trata-se de uma sessão que se centrou na avaliação da regulamentação global, legislação e evidências científicas existentes para produtos de THR. Um dos intervenientes desta sessão foi Tim Phillips, Director-geral da Tamarind Intelligence, uma instituição baseada no Reino Unido, que trabalha no sector.
Tim Phillips disse que o sector de THR ainda pode ser pequeno, mas está crescendo rapidamente. Por isso, defendeu que os reguladores devem lidar com uma variedade de questões diferentes para tomarem as melhores decisões baseadas em dados científicos. Mas foi na necessidade de divulgação das evidências científicas que Tim Phillips colocou acento tónico.
“Os dados devem ser comunicados e a comunidade científica deve ser mais activa na apresentação de resultados baseados em evidências aos reguladores, aos decisores políticos e ao público”, disse Phillips. Por isso, defendeu que para além da necessidade de políticas baseadas em dados, a confiança dos consumidores na THR é, também, uma questão de grande importância.
Por sua vez, Solomon Rataemane, Professor e chefe do Departamento de Psiquiatria na
Universidade de Ciências de Saúde Sefako Makgatho, na África do Sul, defendeu que aumentar a consciencialização dos consumidores sobre o impacto do tabagismo e das novas alternativas de menor risco ao cigarro de combustão é crucial.
Solomon Rataemane falou também da evolução da legislação relevante na África do Sul desde 1993, salientando que um novo projecto de legislação sobre o consumo de tabaco encontra-se actualmente a ser objecto de consulta pública antes da sua aprovação pelo parlamento.
Uma outra questão central que tem merecido debates entre os intervenientes do sector é se os novos produtos de risco reduzido devem ser tratados de forma semelhante aos cigarros combustíveis, apesar de haver provas científicas que demonstram que a mudança dos cigarros convencionais para os novos produtos não combustíveis tem estado a contribuir para a redução de danos entre aquelas pessoas que conseguem deixar de fumar.
Giuseppe Biondi Zoccai, professor associado de cardiologia da Universidade Sapienza de Roma, Itália, precisou que embora a grande variabilidade nos produtos de cigarros electrónicos torne difícil tirar conclusões definitivas sobre seu impacto geral na saúde, e os resultados e conclusões de revisões abrangentes e sistemáticas pode variar dependendo do escopo da revisão, dos estudos incluídos e das metodologias utilizadas, há provas que mostram que os cigarros electrónicos aumentam as taxas de abandono em comparação com a terapia de reposição de nicotina.
Menor emissão de substâncias tóxicas
Mas a questão dos benefícios dos produtos de risco reduzido para os fumantes também foi aflorada na sessão de abertura da 6ª Cimeira sobre a Redução dos Danos do Tabaco, no dia 25 de Setembro.
Na ocasião, o Professor Ignatios Ikonomidis, Presidente da SCOHRE, organizador da Cimeira, afirmou destacou que, em Cimeiras anteriores, foi estabelecido que, embora a prevalência do tabagismo tenha diminuído constantemente em todo o mundo, o número total de fumadores aumentou, à medida que as populações cresceram.
No entanto, os novos produtos apresentam uma menor emissão de substâncias tóxicas em comparação com os cigarros convencionais, e há um interesse crescente na Redução de Danos do Tabaco como ferramenta para reduzir as consequências prejudiciais do tabagismo.
Ficou assente, entre os 250 participantes, que serão necessários mais dados para que decisores políticos e reguladores no sector da saúde pública possam tomar decisões informadas.
A Cimeira serviu igualmente de plataforma para que cientistas de diferentes países discutissem dados recentes, e ao mesmo tempo proporcionar um ambiente onde as autoridades reguladoras e os decisores políticos pudessem interagir com as comunidades científicas e médicas sobre as perspectivas futuras, por “um mundo sem fumo”.
Numa intervenção intitulada ‘Soberania Indígena e Tabagismo’, a Dra. Marewa Glover, Directora do Centro de Excelência em Pesquisa da Nova Zelândia, e que tem desenvolvido acções de Saúde Pública, particularmente na luta contra o tabagismo, fez uma actualização sobre as recentes mudanças legislativas e regulatórias no seu país em relação ao fumo e à vaporização, apresentando dados preliminares de pesquisa sobre as barreiras e os equívocos que impedem uma parte da população fumante de abandonar o vício.
Glover compartilhou a análise preliminar dos dados do estudo “Vozes dos 5%”, uma pesquisa qualitativa longitudinal em curso, abarcando 62 adultos diversos (19 a 81 anos), em toda a Nova Zelândia.
“Presumimos que todos sabem que fumar mata, mas algumas pessoas realmente não sabem”, disse Glover, acrescentando que “não podemos ignorar estas pessoas, devemos apostar mais na educação para a saúde para ajudá-las”.
Por sua vez, o Professor Andrzej Fal, Presidente da Sociedade Polaca de Saúde Pública, explorando os aspectos financeiros do tabagismo, referiu-se, no seu discurso de abertura, a um aparente conflito de interesses criado pelos esforços para a cessação do tabagismo pelo facto de, por um lado, reduzirem os custos directos e indirectos dos cuidados de saúde e, por outro, reduzirem os rendimentos obtidos através dos impostos especiais de consumo e do Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA).
Numa época em que as despesas com a saúde continuam a crescer e enquanto o custo total atribuível ao consumo de cigarros atinge quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, o primeiro dia da Cimeira enfatizou que a prevenção – através de mudanças no estilo de vida, redução de factores de risco comportamentais e redução de danos – é a forma mais eficaz de investir na saúde futura. Para travar a pandemia do tabagismo e os seus efeitos financeiros e para a saúde, foi, igualmente, defendida a necessidade de se angariar fundos para a prevenção primária, bem como introduzir uma regulam.
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 20 de Outubro de 2023.
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