Exaltemos o camarada Chang!

Exaltemos o camarada Manuel Chang, moçambicano de gema, com um espírito patriótico como poucos o possuem!

A exaltação deve ser igualmente dirigida aos valentes e ardilosos advogados que durante longos cinco meses se esgrimiram na barra do tribunal em defesa do nosso honesto concidadão.

Como é sabido, o camarada Manuel Chang brilhou de forma extraordinária no exercício das numerosas missões que a pátria lhe confiou. Destaque vai para a galhardia demonstrada na sua qualidade de Ministro das Finanças da República de Moçambique, durante o qual arrebatou prémios dos quais muitos de nós nos lembramos.

Infelizmente, as más-línguas tentaram denegrir tão honesto cidadão, de tal sorte que, em conluio com as forças reacionárias mais retrógradas, em algum momento até lograram induzir em erro autoridades do país irmão e vizinho, ao ponto de molestar um dos filhos mais valentes e honestos que a pátria amada viu nascer.

Não é por acaso que a magna casa do povo da “Pérola do Índico” jamais se deixou levar por tamanhas calúnias infundadas e manteve intacta a merecida imunidade parlamentar do camarada Chang.

Final e felizmente, a bravura das nossas autoridades foi oficialmente recompensada na tarde daquele dia 21 de Março de 2019. Digo oficialmente porque, na prática, a decisão sobre a sorte do camarada Chang teria sido tomada no dia 14 de Janeiro, em Maputo, durante a reunião entre os camaradas Filipe Nyusi e Cyril Ramaphosa.

Não foi por acaso que no final daquelas seis horas de conversa os dois estadistas escusaram falar para os jornalistas e mandaram emitir comunicados, cada um à sua maneira, um em Maputo e outro em Pretória.

Depois dessa reunião, sobre a sorte de Chang apenas se dizia que se devem deixar as instituições trabalhar. E, de facto, como há separação plena de poderes (Legislativo, Executivo e o Judicial) na África do Sul e em Moçambique, a ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana, camarada Sisulu, a Lindiwe, a 21 de Fevereiro veio a público deixar tudo em pratos limpos

Exaltemos camarada Chang!

Daí em diante, apenas os mais entusiastas continuavam a navegar nas nuvens, acreditando que a reacção e as forças imperialistas podiam triunfar, e, eventualmente, o camarada Chang podia ir parar às mãos dos yankees.

O certo é que as forças retrógradas fracassaram e pelo menos o camarada Michael Masutha, por coincidência ministro da Justiça na vizinha África do Sul, decidiu mandar extraditar o nosso concidadão para Moçambique, deixando praticamente todo o maravilhoso povo moçambicano em delírio incontido, de satisfação.

O povo, unido e organizado pelo partido, apenas espera ser informado da data e hora do regresso triunfal do camarada Chang para recebê-lo com pompa e todas as honras merecidas.

Ao que tudo indica os yankees na desarmam: na quarta-feira emitiram um comunicado em Pretória expressando “desilusão” pela decisão do camarada Masutha e dizem que vão formalizar o recurso a decisão do ministro da justiça e Serviços Correcionais porque pretendem Chang nos EUA para enfrentar um julgamento pelos crimes de “fraude e branqueamento de capitais (…) que defraudou investidores norte-americanos”. Opá, se quiserem que recorram, mas desde já devem saber com quem estão a tratar.

Exaltemos camarada Chang!

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 24 de Maio de 2019, na rubrica semanal denominada TIKU 15 !

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