Falha do projecto
Falha – O projecto da coesão social do governo sul-africano que consiste na integração de imigrantes nas comunidades esbarra-se com a resistência de cidadãos sul-africanos.
A cidade de Joanesburgo e arredores de Pretória estão a ferro-e-ferro desde final da semanal passada. Grupos de sul-africanos atacam, vandalizam, pilham e destroem propriedades e negócios de estrangeiros na chamada cidade de ouro.
As principais vias de acesso e saída de Joanesburgo foram bloqueadas nesta segunda-feira para ‘facilitar’ a operação que designam de “limpeza”.
O governo sul-africano, que nunca reconheceu haver xenofobia contra estrangeiros, está embaraçado com a situação que se regista na maior cidade do país, mas insiste na alegada existência de elementos criminosos, com o argumento de que violência contra qualquer pessoa imigrante ou local é sempre crime.
O sonho dos fundadores de África unida e livre de colonialismo falhou. Os continuadores dos fundadores tapam o sol com a peneira tentando introduzir passaporte único africano. Mas a pobreza extrema, exclusão social e económica baseada em cores político-partidárias e corrupção generalizada nos países africanos estimulam egocentrismo e excesso de nacionalismo.
Cada grupo social ou étnico tenta salvar o seu umbigo, enquanto dirigentes políticos fazem vista grossa repetindo discursos de líderes sonhadores.
O projecto da renascença africana defendido por Thabo Mbeki, Joaquim Chissano e Olusegun Obasanjo foi literalmente abandonado depois da saída do poder deste grupo de líderes.
África unida do Cabo ao Cairo tenazmente defendida por Eduardo Mondlane, Samora Machel, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Thomas Sankara, Jomo Kenyatta, Patrice Lumumba, Abdel Nasser e muitos anónimos está ficando cada vez mais fragmentada.
Cidadãos do último reduto da dominação minoritária branca cuja libertação contou com o apoio de todos os amantes da paz virou as costas contra tudo e todos apesar do governo do ANC desdramatizar a situação da xenofobia descarregada sobre africanos imigrantes.
THANGANI WA TIYANI
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 04 de Setembro de 2019, na rubrica semanal denominada O RANCOR DO POBRE
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