Flyod, o grande!
Flyod. Em pleno Dia de África, o agente branco da polícia norte-americana, Derek Chauvin, matou, na via pública, a coberto da luz do Sol, o afro-norte-americano George Flyod, de 46 anos de idade, segurança e desempregado.
Chauvin alega que surpreendeu Flyod a adquirir produtos, numa loja de conveniência, com uma nota falsa de 20 dólares norte-americanos.
Depois, foram longos oito minutos e 46 segundos do joelho de Derek sobre a garganta de George, que sofria de doença arterial coronariana e doença cardíaca hipertensiva. E o resto é o que até hoje todo o mundo assiste: repulsa de muitos, de todas as cores, credos e muitas nacionalidades, e com toda a razão.
Vimos cidadãos comuns e dignitários de todo o mundo, se indignando, e com razão, perante esta injustificável barbaridade, que apenas veio revelar que aparentemente tem sido debalde o esforço que os norte-americanos têm tentado empreender, ao longo destes anos, de varrer para debaixo do tapete um problema velho: racismo.
Até há quem tente analisar este episódio como as situações históricas de 1861-1865, a
Guerra da Secessão, ou a implementação das políticas de segregação a Lei Jim Crow, em 1870, e que levaria posteriormente aos movimentos pelos direitos civis dos negros.
Impressionante é ver, inclusivamente, cidadãos de um certo país que convive, quase que indiferentes, com sistemáticas práticas de brutalidade e discriminação protagonizadas por agentes locais da “Lei e Ordem”.
Impressionante é ver manifestações de espanto e indignação de cidadãos desse mesmo país que, quando seus concidadãos são seviciados e mortos por agentes da “Lei e Ordem” do seu país a manifestação mais visível que expressam é através das redes sociais, tudo fugaz, e pouco ou nada mais do que isso.
Nos Estados Unidos da América, se há ainda alguns estupores que tentam coisificar a vida humana, ao menos já ninguém duvida que esses mesmos sacanas vão enfrentar a justa fúria de cidadãos que recusam ser meras pessoas e sabem se levantar em defesa dos seus direitos inalienáveis, como CIDADÃOS.
O sistema e os pontapés da vida empurraram George Flyod de Minnesota para Minneapolis à procura de trabalho, mas quis o destino que lá encontrasse uma morte brutal, estúpida e filmada, mas a alma dele vinga, porque tira sossego em diversas cidades dos EUA, colocando este país em sentido jamais experimentado desde a II Grande Guerra Mundial, ao ponto de o próprio Presidente deste país, e família, ser escondido no bunker da Casa Branca.
Em ano de eleição presidencial, o mesmo Trump, o Donald, ao seu estilo e utilizando o Twitter, primeiro ameaçou, mas rapidamente recuou e, orientado pelos seus conselheiros, cedeu para receber a família de Flyod.
Naquele certo país que temos aludido, mesmo quando agentes da polícia matam um observador eleitoral à “boca da votação”, tudo termina nas redes sociais e alguns media clássicos, num caril apimentado com uma esmagadora, retumbante e asfixiante vitória do partido governante.
Até a China, Irão e o Vaticano reagiram com indignação justificada ao assassinato de Flyod pelo agente da polícia norte-americana. Nem sei se, por exemplo, os presidentes chinês, iraniano e o Sumo Pontífice souberam do assassinato, naquele país, do observador eleitoral no dia 08 de Outubro de 2019. Efectivamente, há vidas e vidas…
Porque não sou hipócrita, prefiro desfrutar da sombra de uma mangueira que me viu crescer…
REFINALDO CHILENGUE
PS:
Afinal, reza a História que foi apenas a 02 de Junho de 1537 que o Papa Paulo V reconheceu a “humanidade” dos nativos do Mundo Novo…
Mesmo assim, deve haver poucos negros, se é que há, arrependidos de viver nos EUA. O mesmo não posso dizer de muitos vivendo em alguns locais, incluindo na minha aldeia.
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 05 de Junho de 2020, na rubrica semanal TIKU 15
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