Fundo de maneio
Na família há sempre os dinheiros orçamentados para o pagamento das despesas correntes de funcionamento diário ou no curtíssimo prazo. Os trocos para a compra do pão, sal, fósforos, fracção de sabão para lavar “a loiça daquele dia”, ida ao salão de beleza, pagamento do “chapa” dos miúdos para a escola e muitos outros pequenos itens do quotidiano de uma família minimamente organizada, são programados, planificados e vertidos num orçamento mensal familiar. As donas de casa, as mães e as esposas, são, por excelência, as ministras das finanças domésticas. Algumas com maior sentido de gestão inscrevem no orçamento caseiro mensal uma porção dos rendimentos mensais familiares para o marido “ir beber um copo” com os amigos uma vez por mês. Nada é improvisado. Tudo isto tem cabimento no orçamento familiar numa rubrica denominada, científica e tecnicamente, de “fundo de maneio”.
O que é então o “fundo de maneio”? É a liquidez de uma entidade (pessoa singular ou colectiva) a curto prazo. É o dinheiro fungível ou tangível (moedas e notas) que possuímos “no bolso”. É o somatório das disponibilidades líquidas ou maneáveis na tesouraria dessa entidade. Porém, nunca deveremos confundir situação financeira com tesouraria. Esta última é parte integrante da situação financeira. Na esfera financeira encontramos outras sub-rubricas para além do fundo de maneio, tais como os meios circulantes, o imobilizado e uma parte do passivo. Por isso, algumas vezes, por exemplo, as entidades têm uma excelente situação financeira, mas péssima de tesouraria. Isto é, tem activos, mas não tem dinheiro “cash”, em caixa ou nos bolsos. E uma situação deficitária prolongada do fundo de maneio (ausência de tesouraria) mata, paulatina e progressivamente, a entidade porque a corrói de forma irreversível na sua abrangência total. A entidade começa a ser obrigada a ter de viver de empréstimos – bancários ou não – cujos juros são altíssimos por serem operações de curto prazo (“overnights” bancários), ou ter de começar a alienar, paulatinamente e ao desbarato, o seu património.
Em resumo, com o fundo de maneio as entidades (singulares e colectivas), normalmente, as empresas fazem face às despesas regulares, como pagamentos a fornecedores ou liquidação de salários aos colaboradores e até cobrir custos inesperados, não programados, nem planificados nem orçamentados.
Tal como vem nos manuais teóricos de gestão financeira de empresas, o fundo de maneio, quando calculado de forma científica, adopta-se o caminho seguinte: NECESSIDADES DE FUNDO DE MANEIO = CLIENTES + EXISTÊNCIAS – FORNECEDORES.
Um aspecto a considerarmos para que tenhamos uma tesouraria saudável, sem apertos temporários evitáveis, consiste em: i) – Diminuir o prazo do recebimento dos valores facturados. Estabelecer tempos de recebimentos das facturas a receber menores do que aquelas que teremos de pagar – pagarmos menos depressa e recebermos mais depressa; ii) – Alargar o prazo de pagamento das facturas dos nossos fornecedores e reduzir a necessidade de recorrer ao fundo de maneio; iii) – Reduzir os “stocks”. Uma das formas para evitar recorrer ao fundo de maneio é manter o inventário no mínimo possível. É importante avaliar o que funciona melhor na empresa, se comprar em mais quantidade para obter desconto ou ter um número reduzido de produtos acabados. (Google, 18/10/2023).
Resumindo e concatenando: tenhamos muito cuidado com a forma como gerimos o nosso fundo de maneio: doméstico, empresarial e de outras entidades. O fundo de maneio mal gerido poderá ser o começo do fim de uma empresa!
ANTÓNIO MATABELE *
*Economista
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 20 de Outubro de 2023, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.
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