Gabar-se da burrice
Burrice – Eu, como muitos que cresceram numa região rural, estimo, respeito e considero o burro. Aquele prestável quadrúpede.
Já o mesmo não sucede comigo, acredito que com muitos também, em relação àqueles “burros” bípedes, por opção.
Suscitou esta minha humilde reflexão a palhaçada que prolifera em muitos ambientes, mas mais nos meios ou órgãos de comunicação social, ademais, alguns deles por mim mesmo patrocinados, por via dos vários impostos e taxas que pago, religiosamente.
Pouco me importa se uma Direcção de um grupo de media nacional permita, por exemplo, que um apresentador, amiúde, diga, de forma ufana, que “centenas de pessoas estão ‘aftadas´” por isto e mais aquilo, porque se trata de um grupo privado, apesar de isso poder AFECTAR a aprendizagem dos meus filhos e netos, no que à fala da língua portuguesa diz respeito.
Igualmente nada teria a obstar se, em ambiente familiar, um determinado locutor decidisse, lá com os dele, por “fineza” adulterar, voluntariamente, o apelido ou nome do seu progenitor. Mas repetidas estas porcarias nos microfones da Rádio Moçambique, que alimento com os meus impostos e taxas de radiodifusão, por favor, haja santa paciência!
Quantos NDEVES são hoje, por “fineza”, Neves e VALOIS passaram para Balois, por exemplo?
E não é que um “alegre” jornalista, por sinal natural de Gaza, também, um dia destes quase que obrigava a minha avó a perder apetite ao jantar por pronunciar, deliberadamente, mal (insultuosa até, na língua changana – “maquenze” – testículos), a palavra Maqueze, nas ondas hertzianas da Rádio Moçambique!
Senhores gestores da Rádio Moçambique, será que não há quem cuide de uma área ligada à expressão/dicção dos locutores aí da casa?
Não conheço de vista um tal de Osório Afonso, mas ele constitui, em meu entender, exemplo de quem melhor se expressa nos microfones da Rádio Moçambique, pela forma como pronuncia os nomes e locais, de pessoas e apelidos deste belo Moçambique.
Alguém da Direcção da RM escutou, por exemplo, repetidas vezes, nas emissões desta quinta-feira (13 de Julho de 2017), alguém dizendo que o Presidente Filipe Nyusi ia visitar uma região chamada “Nhakutsui”, no lugar de NHAKUTSI ou KaNhakutsi?
Sinceramente, isto fere os tímpanos e dói o coração dos sensatos.
Se o problema é de não ser da região em referência – já que este país é vasto e as pessoas têm pronúncias diversas –, haja coragem e humildade de se aproximar de quem possa ajudar a pronunciar devidamente os nomes de locais, pessoas e ou apelidos, para evitar cair no ridículo.
Façam palhaçadas nas vossas casas e não nos órgãos/meios públicos de comunicação social e às nossas custas!
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã no dia 14 de Julho de 2017, na rubrica semanal intitulada TIKU 15