Geração da viragem: Será?
Diante da situação que Moçambique está a passar, todos somos chamados a reflectir sobre o que está a acontecer, o caminho que queremos seguir e onde queremos chegar. Entre vários artigos de opinião que escrevi e publiquei há mais de 10 anos, alguns, o seu conteúdo parece contemporâneo e ainda são úteis para partilhar com o público para alimentar o debate em curso. Este artigo foi inspirado (mínima reedição) do artigo de opinião com título: “Os desafios da geração da viragem em Moçambique”, publicado no dia 11 de Junho de 2013 no Espaço de opinião e Política do jornal electrónico Correio da manhã, hoje Redactor.
Em todas as sociedades e em todos tempos, a juventude, como uma categoria socialmente construída no tempo e espaço determinados (complexa), ela sempre foi considerada (objectiva e subjectivamente) como uma fase de interação e participação activa dos indivíduos na vida política, económica, social e cultural nas famílias, comunidades e sociedades onde se encontram.
Não num passado longínquo, há um pouco mais de 10 anos, ouviu-se a tónica dos discursos políticos que considerava a Juventude como geração da viragem. Foi interessante essa concepção, pois ela nos permitiu perceber que, do ponto de vista político, havia uma base substancial que sugeria haver a ideia da valorização da juventude como agentes de mudança. Se havia essa percepção, também é passível questionar, até que ponto os jovens Moçambicana constituíam ou constituem de facto, agentes de mudança? Em que medida e como eles participam no processo de desenvolvimento político, económico, social e cultural do país? Quais são os desafios dos jovens nesse processo de mudança política, económica, social e cultural?
E agora? Será que o discurso político sobre a geração da viragem ainda é válido? Uns podem dizer sim, outros podem dizer não. Qualquer posição merecerá o sustento por argumentos passíveis de questionamento. Isso é válido no campo de diálogo aberto e franco.
Se considerarmos a juventude Moçambicana actual, como geração da viragem, significa atribuir ou reconhecer que ela tem a consciência e responsabilidade individual e colectiva para fazer diferença, mudar as condições materiais e ideológica.
Por outro lado, pressupõe a ideia de que há condições subjectivas e objectivas, criadas por ela para dinamizar essa mudança a todos níveis, desde a família, comunidade e na sociedade onde ela se encontra. O conceito de geração, de forma resumida, remete a um grupo social cujos indivíduos foram nascidos na mesma época no tempo e espaço determinados e que detém uma experiência percebida comum (não necessariamente por idade biológica, mas também por características específicas ligadas ao contexto político, económico, social e cultural da sociedade onde se encontram).
Porém ela expressando uma determinada forma de encarar a vida e os seus problemas. Já o conceito de viragem, resumidamente remete ao acto ou efeito de virar, uma mudança de direcção na deslocação de automóveis. Na perspectiva sociologica pode ser considerada como mudança social que do ponto de vista estrutural está relacionada directa ou indirectamente às mudanças nos campos políticos, económicos, cultural da sociedade no tempo e espaço determinados.
Se a mudança Social (viragem), remete a transformações profundas observáveis no tempo e espaços determinados e afecta toda estrutura ou o funcionamento da organização social, política, económica e cultural de uma determinada família, comunidade ou sociedade, então é preciso reconhecer que no caso de Moçambique, essa transformação para ser efectiva ainda implica um conjunto de desafios para a nossa geração da viragem (como agentes de mudança).
Dentre vários desafios possíveis para os jovens Moçambicanos, como geração da viragem, pode se fazer uma lista enorme, mas neste artigo, maior atenção será dada há aqueles considerados nesta perspectiva, como bases para toda acção humana em qualquer comunidade e sociedade.
Nessa complexidade de problemas sociais que afectam os jovens de diferentes cantos do nosso belo país (Moçambique) e que, de forma diversificada são sentidos, pensados e enfrentados, constitui um desafio para esta geração da viragem, formular uma agenda única para o desenvolvimento político, económico, social e cultural que reflicta os interesses e prioridades dos jovens de cada canto do Moçambique. Essa agenda única, não seria produto do pensamento e interesses individuais ou de um grupo de indivíduos associados e com voz para os “sem voz”, mas sim, teria que ser resultado de um diálogo empático, não movido por um espírito manipulador, utilitarista e partidário, mas por uma vontade movida por interesses colectivas e prioritários dos jovens na sua vida pessoal e colectiva.
A geração da viragem, como agente de mudança, ela precisa de estar consciente das condições em que se encontra. Mas isso não passa necessariamente por identificar os problemas sociais que directa ou indirectamente lhes afectam. Torna-se importante para os jovens dar um passo mais para frente, identificar as condições em que gostariam de viver e o que estão dispostos a fazer para criar essas condições. O desafio fundamental nesta perspectiva é sonhar. Os jovens devem ter sonhos. Esses sonhos devem resultar de uma escolha racional e harmoniosa, mas prioritária entre as prioridades possíveis que maior efeito catalizador possa ter na sua vida, seja do ponto de vista político, económico, social ou cultural.
Os jovens precisam de estar conscientes sobre as consequências das suas escolhas e ter coragem de arriscar e fazer novas apostar na sua vida pessoal ou colectiva. É necessário não aceitar reviver a mesma experiência de sofrimento mental de forma crónica. Mas para isso acontecer, o desafio é aprender a saber fazer escolhas conscientes, onde a vontade dos jovens não é fruto de uma manipulação através das tradições inventadas, tão pouco por projectos políticos frutos de uma minoria representante da minoria representada.
Mas um dos aspectos fundamentais nessa abordagem, é que os jovens não necessitam e nem precisam de mendigar alguma atenção especial de nenhum partido ou governo, visto que eles são parte do povo e o povo é patrão. Nisto todos concordamos. Nesse caso, os jovens, se têm sonhos e desejam realizar seus sonhos, eles devem agir. A sua acção deve ser coerente com os seus sentimentos e pensamentos e não guiada por uma mira que reflecte os interesses individuais disfarçados no rosto de grupos partidários, mas sim orientado por interesses colectivos que reflitam uma unidade de prioridades hormônicos com a complexidade na qual os jovens Moçambicanos vivem.
É necessário aprender a fazer sacrifícios que resultem e gerem harmonia na vida social, política, económica e cultural. Promover a mudança social exige sacrifício, pois toda mudança, embora seja benéfica para os que a desejam, ela nem é sempre bem vista pelos que vivem e sentem o conforto do presente. Mas se ela é benéfica para a maioria excluída, é necessário que os jovens (se são a geração da viragem de verdade) estejam despostos a fazer sacrifícios para quebrar o ciclo vicioso e o sofrimento físico e mental crónicos e por via disso dar-se uma oportunidade de experimentar nova maneira de sentir, pensar e agir coerente, cujos frutos espera-se que sejam harmoniosos e isentos de remorsos.
VASCO MUCHANGA (Sociólogo)
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 29 de Novembro de 2024.
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