Gerindo a nicotina

Gerindo a nicotina – No Fórum Global sobre Nicotina (GNF, na sigla em inglês), que este ano teve lugar pela primeira vez num formato híbrido, de 15 a 18 de Junho, a partir de Varsóvia, capital da Polónia, os participantes abordaram questões ligadas à nicotina, sempre na perspectiva de desencorajar os consumidores a recorrerem ao cigarro.

Vários especialistas que intervieram na conferência convergiram no aspecto de como a nicotina não combustível é uma das alternativas seguras à fumaça, para aqueles que não conseguirem deixar de fumar.

Paul Newhouse, director do Centro de Medicina Cognitiva do Departamento de Psiquiatria do Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos da América (EUA), falou sobre esta matéria no painel 4, especificamente sobre as características da nicotina.

Na Universidade de Vanderbilt, Newhouse lecciona também nas cadeiras de Distúrbios Cognitivos de Psiquiatria, Farmacologia e Medicina. Entre várias outras áreas, a sua pesquisa foca sobre questões relacionadas com distúrbios cerebrais degenerativos, e no papel dos sistemas receptores no funcionamento cognitivo normal e desordenado em humanos.

Apresentou actualizações sobre nicotina como um potencial terapêutico para desordens cognitivas. Falou das melhorias na atenção dos pacientes e optimização do funcionamento da memória, como estando entre as vantagens, o que, em última instância, pode ajudar a melhorar o funcionamento do cérebro.

“Distúrbios que apresentam défices que se assemelham a mudanças aceleradas de envelhecimento no funcionamento cognitivo podem ser candidatos ao tratamento da nicotina”, disse.

Michelle Minton é especialista em políticas de consumo, abrangendo questões regulamentares que incluem a redução dos danos ao tabaco, a legalização da canábis, o álcool e a nutrição. Também a partir dos EUA, falou da nicotina, assinalando que ela reduz a dor, o stress e a inflamação, relaxa e melhora a cognição. Também apontou prazer como um dos benefícios que as pessoas encontram na nicotina.

Por sua vez, Sudhanshu Patwardhan, um médico britânico de origem indiana, indicou que a nicotina não está entre as principais causas dos prejuízos causados pelo consumo do tabaco. Patwardhan tem estado activo numa campanha visando ajudar pessoas a deixarem de fumar. Depois de uma longa e impactante carreira empresarial nos sectores farmacêuticos e de tabaco em três continentes, ele tornou-se, em 2019, co-fundador do Centro de Investigação e Educação em Saúde (CHRE). Mais de 50 especialistas do CHRE trabalham em projectos de literacia em nicotina e redução dos danos causados pelo consumo do tabaco no Reino Unido, EUA e Sul da Ásia.

No painel do dia 17 de Junho, Patwardhan debruçou-se sobre a nicotina por detrás do tabaco. Disse que um dos principais motivos para o consumo do tabaco é a adição da nicotina, que é um produto químico. Contudo, observou que a fumaça do tabaco é uma das principais causas de doenças graves, incluindo cancerígenas e de coagulação de sangue, as quais na maioria dos casos podem resultar em morte.

“Como a maioria dos danos causados pelo tabagismo não provém da nicotina, mas de outros componentes do fumo do tabaco, a saúde e a esperança de vida dos fumadores actuais poderiam ser radicalmente melhoradas, encorajando o maior número possível de pessoas a mudar para produtos sem fumo”, disse, assinalando que a nicotina é segura, reduz ansiedade, estabiliza o humor e ajuda a gerir o stress.

No mesmo diapasão, alinhou Riccardo Polosa, fundador do Centro de Excelência para a aceleração da Redução de Danos do Tabaco, na Itália. Polosa é também Professor Catedrático de Medicina Interna na Universidade de Catania e director do Centro Universitário de Prevenção e Tratamento do Tabagismo.

Polosa tem participado em várias pesquisas clínicas e comportamentais de alto perfil no campo das doenças relacionadas com o tabagismo, sendo considerado o cientista mais produtivo do mundo no campo da pesquisa de produtos alternativos ao cigarro, defendo que é possível ter acesso à nicotina e ao mesmo tempo combater os malefícios do tabagismo.

Segurança de produtos de nicotina

A anteceder o painel sobre a nicotina, o terceiro dia do GNF 2022 também foi marcado pela discussão sobre a segurança de produtos de nicotina, os chamados NRT, em inglês, que permitem ingerir nicotina sem ser necessário fumar. Trata-se de produtos que funcionam como substitutos da nicotina que normalmente se obtém dos cigarros, ajudando a prevenir desejos desagradáveis e sintomas de abstinência que podem ocorrer quando se parar de fumar.

Karl Fagerstrom, da consultora Fagerstrom, foi um dos intervenientes do painel 2. Doutorado em dependência da nicotina e cessação de fumaça, Karl Fagerstrom é o inventor do teste Fagerstrom para dependência de cigarro e membro de uma sociedade de pesquisa em tabaco. O seu trabalho no controlo do tabaco valeu-lhe uma medalha da Organização Mundial da Saúde, em 1999. O seu principal interesse é a redução de danos associados ao tabaco, sublinhando que o objectivo fundamental é, em última análise, um mundo sem cigarro.

Na sua apresentação, centrada na experiência da Suécia, Karl Fagerstrom mostrou como os produtos de nicotina ajudam a reduzir os danos causados à saúde pela inalação do fumo do cigarro. Disse que o Snus, por exemplo, que foi o primeiro produto a ser reconhecido como menos prejudicial à saúde pública, ajuda em grande medida a prevenir cancros e várias outras doenças que resultam do consumo do cigarro.

Citou as agências reguladoras do Reino Unido e dos Estados Unidos, que mostraram que os NRT são alternativas seguras à fumaça.

“Os produtos de nicotina sem tabaco são susceptíveis de ter o melhor potencial para a redução de danos entre os fumadores que deixam de consumir cigarros”, disse.

Peter Hajek é Professor de Psicologia Clínica e director da Unidade de Investigação sobre a Dependência do Tabaco no Instituto de Medicina Preventiva Wolfson, Universidade Queen Mary de Londres, Reino Unido. A sua investigação foca-se na compreensão dos comportamentos de saúde e ao desenvolvimento e avaliação dos tratamentos comportamentais e farmacológicos para os fumadores dependentes e para as pessoas com problemas de peso.

Centrou a sua apresentação na fumaça de cigarros durante a gravidez, anotando que, mesmo reconhecendo factores genéticos, a fumaça na gravidez pode resultar em restrições no crescimento pré-natal, incluindo baixo peso à nascença.

Observou que, como outros fumantes, as mulheres grávidas tentam controlar os riscos parando de fumar. Mas indicou que há outras saídas, que passam pela troca de produtos combustíveis para os chamados NRT ou cigarros electrónicos.

“Parar de fumar sem uso de nicotina é preferível, mas a mulher grávida que não pode deixar de fumar, pode ser aconselhada a experimentar cigarros electrónicos”, precisou.

Ernest Groman é diretor Científico do Instituto de Nicotina de Viena, a Consultora Científica da Câmara dos Farmacêuticos Austríacos. Groman também é delegado austríaco na Convenção-quadro sobre o Controlo do Tabaco (FCTC, na sigla em inglês) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Tem pós-doutoramento em matéria de redução dos danos causados pelo tabaco, tese defendida, em 2001, na Universidade de Viena. O especialista, que desenvolveu e implementou um programa de cessação de tabaco na Áustria, tem interesse na saúde no local de trabalho e a redução de danos.

Falou da comunicação com fumantes. Apresentou resultado de uma pesquisa que mostra que, ao invés de parar ou reduzir, a maioria dos fumantes quer continuar a fumar, pelo que, disse, é preciso considerar que alternativas a oferecer.

Observou que os fumantes mais encontram, na sociedade, são mensagens alarmistas, de que terão doenças ou irão morrer e, por outro lado, restrições de que não podem fumar em determinados espaços. Mas aí a questão é como realmente ajudar as pessoas que querem parar de fumar, ou para aquelas que não conseguem, oferecer-lhes alternativas mais seguras ao cigarro, o que significa a necessidade de encontrar uma comunicação mais eficiente e eficaz sobre a existência desses produtos.

Rachel Murkett é directora de projetos da Biochromex, uma empresa de consultoria focada na saúde pública e farmacêutica. Doutorada em Química pela Universidade de Cambridge, tem mais de seis anos de experiência em aconselhar empresas e organizações internacionais de investigação. Falando dos riscos do consumo de nicotina, lembrou que o tabaco mata milhares de pessoas, quando produtos de risco modificado podem ajudar evitar essas mortes. Disse que os produtos combustíveis estão no topo dos riscos, enquanto os chamados NRT apresentam riscos reduzidos.

De acordo com a especialista, existe uma variedade de alternativas seguras aos produtos de tabaco de alto risco. “A melhor evidência científica disponível apoia o risco reduzido de doenças associadas a produtos de risco reduzido. Alternativas mais seguras poderiam desempenhar um papel central na diminuição da morbilidade e da mortalidade associadas ao consumo do cigarro”, afirmou. (Gerindo a nicotina)

PMI

Olá!

Clique o link e divirta-se!

https://online.fliphtml5.com/tnxli/geox/#p=2

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *