Guerra de Mariano Nhongo

Guerra – O país da minha aldeia está em apuros, meu Deus!

Dirigentes e governantes políticos fragilizaram o sistema de Justiça para tirarem proveitos individuais em detrimento do colectivo.

A guerra terrorista em Cabo Delgado foi minimizada durante mais de um ano pelo Governo perante a comunidade internacional.

O Governo dizia que eram bandidos e acreditava que ia “limpa-los”. Os bandidos evoluíram para vários níveis; de bandidos passaram para malfeitores, depois insurgentes, e agora são terroristas. Mesmo depois de terem assassinado 1200 pessoas e destruído aldeias inteiras, o governo continuava relativamente fechado para discutir aberta e publicamente a grave situação vivida na província de Cabo Delgado.

O grupo de bandidos, malfeitores, insurgentes e terroristas espalha luto, dor e sofrimento em Cabo Delgado, desde 2017.

Na terça-feira desta semana acompanhei uma reportagem da Rádio Moçambique, a partir das 13H00, depois do RM Jornal, primeira edição, descrevendo a dramática situação por que passam as pessoas violentadas pela guerra no interior de Cabo Delgado e que agora estão em Pemba. Os relatos do seu sofrimento são comoventes. Apelaram ao governo para acabar com a guerra em Cabo Delgado.

Lamentavelmente, um responsável municipal de Pemba acusou jornalistas que têm reportado o drama dos deslocados como sendo notícias falsas “fake news”. Fez política gratuita.

As pessoas reconhecem o apoio dado, mas apelam ao governo para acabar como a guerra em Cabo Delgado. Têm razão, apesar da complexidade da situação. O governo deve restabelecer a paz.

Entretanto, há um ano, a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, liderada por Mariano Nhongo, lançou guerra no Centro do país contra a população civil em protesto contra Ossufo Momade, eleito Presidente da RENAMO num congresso do seu partido na sequência da morte por doença do então líder Afonso Dhlakama.

O Presidente Nyusi anunciou trégua de uma semana para as Forças de Defesa e Segurança deixarem de perseguir os guerrilheiros da Junta Militar. O prazo da trégua já expirou.

O Chefe do Estado numa situação complicada, porque as populações teceram rasgados elogios para Filipe Nyusi pelo anúncio da trégua. Se Nyusi não renovar a trégua será apontado como culpado caso guerrilheiros da Junta Militar, de Nhongo, voltem a matar populações em Sofala e Manica.

Mas num Estado de Direito, o caso de Mariano Nhongo e RENAMO é assunto de Justiça e não de Governo.

Na África do Sul, alguns partidos políticos, incluindo o histórico PAC (Pan-African Congress ou Congresso Pan-Africano) têm se envolvido em disputas internas de liderança.

As disputas são dirimidas em sede de tribunais judiciais e nunca através de AK-47 com emboscadas nas estradas para matar população civil.

O Governo não entra na mediação de conflitos partidários internos.

O sistema judiciário é órgão competente para dirimir esse tipo de conflitos seguindo a lei.

Em Moçambique, faz-se de conta que é em Estado de Direito onde as leis são devidamente aplicadas para tudo e todos. É falácia.

O caso Mariano Nhongo é sinal de que o país da minha aldeia está mesmo em apuros por conta de banalização de instituições.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 04 de Novembro de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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