Guerra em Cabo Delgado
Guerra em Cabo Delgado – Moçambique nunca foi um país pacífico, desde que me conheço e fiz-me ao mundo. Não sei se é um “mau-olhado” dos anciãos desta terra que deixaram alguma promessa pendente, espécie de rito, que ainda não foi cumprido para libertá-lo desse amaldiçoamento.
Desde que nasci, nos longínquos anos sessenta, tenho a impressão que a maior parte da minha vivência vi o país em “guerras”.
A Guerra Colonial, vivi-a ainda bebé, numa zona “infestada”, como foi Ancuabe, onde dormíamos ao som das bazucadas, granadas e tiros! Foi a guerra que libertou o país das garras do colonialismo português. Muito sangue foi derramado. Com isso veio a bendita independência. Julgávamos ser totalmente livres. Debalde, foi como que sair de um buraco para entrar noutro.
Os novos donos da terra, tomaram a conta do país, e começaram a fazer e a desfazer, governando de uma forma bruta, agressiva e drástica, onde os direitos dos cidadãos continuaram a ser espoliados, como já era no passado. Mudou-se apenas de roupagem e de personagens, mas o essencial que era a liberdade, essa foi sempre uma miragem. Mesmo os camaradas que lutaram lado a lado para a independência nacional, começaram a sentir isso e a ser postos de lado, por ter ideias diferentes. “A mostarda subira-lhe ao nariz”. Era tempo de fobia, terror, de fuzilamentos indiscriminados, mesmo de pessoas de elite. E, silenciosamente, começa a haver uma corrente de cisão, derivado ao conflito de interesses e poderes na “nomenclatura”. Era o pior que podia ter acontecido. Não tardou por isso, que o movimento, RENAMO, tivesse submergido, apesar de todo o controle e força que detinham.
Mais uma guerra fatídica, desta vez, a Guerra do Poder, entre irmãos moçambicanos que estiveram do mesmo lado da barricada contra os colonos. Foram muitos anos dessa guerra, que gradualmente foi destruindo um país inteiro que ainda tentava reerguer-se da guerra anterior. Houve várias tentativas para os Acordos de Paz, que não passaram de uma paz podre, por falta de compromissos e honestidade de ambas partes.
Quando finalmente a paz parecia um processo nivelado de acalmia desta nova era, com alguma perturbação aqui e acolá de somenos importância, eis que se descobre o maldito jazigo de gás e petróleo em Cabo Delgado e o espectro de mais uma guerra, desta vez, a Guerra Económica, ficara mais que iminente!
Há muitas teorias de conspiração sobre a guerra que está a acontecer em Cabo Delgado, e está a dizimar povoações, aldeias e até cidades, de forma indiscriminada.
1- Pr’a uns é uma guerra-santa e que o dito “Estado Islâmico”, quer implementar as suas leis nessa região! E as perguntas são: Porquê só agora, quando se descobriu o tal jazigo de gás? Onde andaram eles, estes anos todos? Porquê vir impor a Lei do Sharia, numa província cuja população maioritariamente professa o Islam? Porquê chacinar essa mesma população muçulmana se a intenção é implementar o islam? E porquê destruir as mesquitas? Muitas outras perguntas homogêneas se poderiam enfatizar!
A verdade é que esta guerra, nada tem a ver com religião. Quem está por detrás desta estratégia usa a capa do Islam, para atingir facilmente os seus objectivos, denegrindo o alvo mais fácil e comum, hoje em dia, o Islam.
Quando os jazigos foram descobertos, foi uma alegria grande entre a população de Cabo Delgado, uma província esquecida, que vai fazendo das “tripas o coração” para sobreviver da pobreza absoluta que sempre esteve mergulhada.
Sonhavam estes indígenas, ter finalmente chegado a sua hora, e abrir-se-lhes-ía, as oportunidades, de melhores empregos, nova vida sem fome, enfim, um novo “modus-vivendi”, que bem o mereciam, mas infelizmente, o sonho não passou de um pesadelo.
2- Depois, há uma outra corrente de teoria que corrobora, que quadros superiores da nossa elite governamental esteja por detrás disto, feitos com as multinacionais internacionais, querendo enriquecer às custas de muito sangue, o que honesta e pessoalmente custa-me a acreditar, pelo massacre que temos visto no campo de batalha, onde nem os bebés são poupados. Não acredito que haja cidadãos sanguessugas, que tenham a coragem de descaradamente pôr, todas as fichas para obter dividendos desta forma, embora também não possa pôr a mão no fogo por ninguém, depois do que se viu com as “Dividas Ocultas”.
3- E há uma terceira teoria, esta mais fraca, do poder entre a Elite do Norte e Sul!
Há cerca de três anos que este conflito se iniciou em Mocímboa da Praia e gradualmente foi crescendo, sem que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, conseguissem rechaçá-los, tornando-se assim numa hipérbole, que muitos prejuízos irão causar, se não se encontrar um meio de os estancar. A comunidade internacional está a acompanhar desinteressadamente e de longe esta situação, pois, nem as Nações Unidas nem a OUA, cujo Moçambique é membro, fizeram qualquer referência ao que se tem passado ao Norte do país! É de admirar!
Não sei até que ponto uma ajuda externa, para combater este mal pode ser prejudicial ao país, como se faz crer, se as nossas capacidades no terreno, são exíguas e desprovidas de solução ao combate. Não será vergonha nem ficaremos com o complexo de inferioridade, se alguém se predispor a ajudar e a resolver este problema no “terreno”. Vergonha será, se um dia (Deus queira que não) Cabo Delgado, tornar-se um território autónomo de Moçambique. Por este andar…
FAHED SACOOR (Reino Unido)
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, nas suas edições de 12 e 13 de Abril de 2021, na rubrica DA DIÁSPORA
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