Há piadas que não provocam risadas

Tem-se propalado pelos partidos políticos o sentido de esbanjar a democracia no país e viver dela enquanto Estado de Direito Democrático. Utopia!

Este ano, aliás desde o ano passado nas eleições autárquicas ou mesmo no processo da escolha ou indicação dos cabeças-de-lista, um fenómeno caracterizou quase todos os partidos.  

Muitos que compunham as listas a cabeças-de-lista eram candidatos únicos nos seus partidos e orgulharam-se de as vencer. Ou seja, eles mesmos eram vergonha de si mesmos. Ou, por outra, um maluco que recebera um copo furado para encher um tambor de mais de 200 litros e alegrava-se em acarretar água com o copo furado e expectante que o encheria.

A gota de água caiu no oceano no congresso do MDM quando o presidente da autarquia da Beira concorreu ao cargo de presidente do partido, retirou a sua candidatura para deixar o actual candidato às presidenciais pelo MDM concorrer só. Isto mostra inequivocamente uma intolerância à democracia e espírito de parasitismo. 

Outro gotejo de água cai nas terras da bicicleta, mucapata e coco, onde um cabeça-de-lista que concorre sozinho perde sozinho e vai à segunda volta sozinho. Neste caso, mais visíveis há tantas linhas de pensamento que podemos trazer:

Primeiro, não se respeita o princípio de democracia, pois ela parte do ponto de que há espaço para todos e todos têm o direito de eleger e serem eleitos. Ao trazer uma só pessoa em detrimento da maioria, rasga-se esse princípio elementar. 

Segundo, há “boladas” que estão a esconder e que ao sair o tal, as coisas serão escancaradas e, por isso, deve-se fazer o máximo para ele concorrer sozinho, perder sozinho e ir à segunda volta sozinho. Isso garantirá a circulação das “boladas” sem muito incómodo. É preciso garantir o futuro para não estragar o presente. 

Terceiro, que os outros não são melhores e nem fazem parte dos partidos e que a sua voz não muda nada. São retrógrados dentro da sua organização. Discriminação exacerbada.

Quarto, é preciso ser vassalo dos que têm o poder absoluto para ser único candidato e filho mimado. Se porventura opuser-se a eles, sucederá como em Nampula com o “boss” de lá que viu o seu nome não merecendo a chance da recondução. E está piano! O silêncio é como slides, não se pronunciam, apenas são manipulados.

Essas e outras piadas não causam risos, mas indignação, resignação, desgaste, medo do futuro, intriga, ódio, caças às bruxas ou aos bruxos, lamentação, enxaqueca e desespero. Não se pode continuar com esse modelo numa sociedade que tenha muitas cabeças pensantes e com vontade de contribuir para o desenvolvimento do país. Abertura de espaços para todos. 

O país não se constrói com as mesmas pessoas. As ideias divergentes fazem do país um mosaico de oportunidades em que todos são chamados a compartilhar o seu saber. Será que há uma agenda de desenvolvimento? Há um caminho para a mudança da situação actual do país?

Veremos nos dias que vêm dificuldades para muitos pré-candidatos. Propostas reprovadas, limitação do espaço público, encerramento em lugares de hospedagem para uns por apenas serem de outra filiação de pensamento. 

Perseguições acenderão como chama e vibrarão como celular em modo vibrador. Haverá sangue derramado, tudo isso pela falta de compreensão do sentido democracia e ganância do poder. Se dizem que a democracia é sinal de festa e poder nas mãos do povo, eu não consigo encontrar isso no meu país. 

Recuso-me a admitir que seja democracia ou é uma inovação da democracia. Desde que me conheci como gente, procuro entender que tipo de democracia ostentamos em Moçambique. Nada anda e nada fica. Ninguém pune a quem e não há nada que pune a ninguém, por isso que cada um acorda e inventa os seus assuntos em nome do caos. 

Caos que causarão outras piadas sem risos e tais serão: jovens cantando em campanhas para partidos que ofendem o povo, ou seja, jovens sem futuro e a enterrarem a única esperança que têm. Espancar-se-ão sem necessidade. Defenderão quem os oprimiu por anos e alegrar-se-ão por receberem uma camiseta e prato de arroz com feijão. São jovens que não se amam.

Teremos gente pobre a fechar caminhos para outros pobres. A internet será mais cara ainda e com limitações para que as informações não sejam acessíveis para a maioria, pois isso atrapalhará o negócio dos senhores feudais. Para subir e baixar um vídeo levará tempo… as lives podem ser consideradas crime público, etc..

As vias de acesso serão ainda mais degradadas para garantir que outros lugares não tenham acesso ao exercício do seu direito de voto. Os brigadistas sofrerão para receberem o seu dinheiro. Muita coisa acontecerá em nome da balbúrdia… Muitos candidatos recusar-se-ão a ir a debates públicos em televisão. As sondagens serão incriminadas. Pedimos aos órgãos de comunicação que sejam inovadores ao menos nestas eleições e invistam ao máximo.

E você, vai fazer o quê?

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 10 de Junho de 2024.

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