Iludiram-nos bem!

Prometeram-nos que os salários aumentariam, e haveria bons ventos a soprar a favor de funcionários do Estado com a implementação da Tabela Salarial Única, a tão propalada TSU, mas não passou de uma máfia para a redução e os cortes de salários, inclusive o seu não pagamento.

No final de 2023, vários funcionários do Estado estavam optimistas em receber o seu 13.° salário, conforme a informação prestada pelo Chefe de Estado moçambicano, Filipe Jacinto Nyusi, no âmbito da apresentação do informe anual sobre o estado geral da nação. Porém, afirma-se que o mesmo 13.° de 2023 será pago faseadamente até finais deste Fevereiro de 2024.

Desde que iniciou o assunto da TSU, as coisas vão de mal a pior, as greves dos professores e médicos só pioraram. Hoje em dia dá-me até medo ir ao hospital público, porque a maior parte dos que lá está não exerce as suas actividades como deve ser, por falta de incentivos salariais, acho. E o que dizer do professor que pode deixar passar um estudante não qualificado porque foi aliciado com um dinheiro básico para a alimentação da família em casa porque o salário não é suficiente? Também o que dizer do salário dos nossos polícias? Sem perceber, estão a enfraquecer as bases do nosso país, a segurança, saúde e educação são bases importantes para o desenvolvimento de uma nação. O que se espera de um polícia, médico, professor, que tem uma família para alimentar e sem salário pago devidamente? Será que não está a se abrir uma brecha para que o polícia trabalhe com o ladrão, e o professor aceite suborno e os médicos não comparecem aos hospitais tendo em conta que há sempre pessoas que precisam de cuidados?

E o incrível é que a maior parte dos que estão em frente das decisões na elaboração ou promulgação das várias leis no país, os seus filhos não estudam numa escola pública e quando estão doentes são tratados em clínicas ou fora do país e não nos hospitais públicos do país, porque reconhecem a [falta de] qualidade dos mesmos.

Afinal porquê não investir na saúde para que tenhamos profissionais qualificados? E na educação para um futuro de qualidade das crianças de hoje que são o futuro do amanhã ou jovens que são os agentes decisores do amanhã?

Com a ilusão da TSU, muitos dos nossos irmãos meteram-se em dívidas confiando na tal TSU, e desde a sua aprovação em 2022 onde a mesma foi criada com o objetivo de eliminar assimetrias e manter a massa salarial do Estado sob controlo a médio prazo, no entanto, o seu arranque fez disparar os salários, influenciou negativamente para os cortes e redução de salário na sua grande maioria.

De acordo com uma informação avançada pelo jornal Redactor, desta terça-feira, os técnicos do FMI (Fundo Monetário de Investimento) apontam ao Governo erros de mapeamento dos funcionários, estimativas erradas nos gastos da aplicação inicial da Tabela Salarial Única (TSU) e falta de medidas de austeridade nos serviços públicos e onde o Governo de Moçambique vai ter de acelerar os cortes nos cerca de quinhentos mil funcionários e a limpeza das tabelas salariais para reduzir a despesa até 2028, não por iniciativa e desejo próprios, mas por pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Agora que o mal está feito, só nos resta observar onde isso vai. Não sei exactamente quem teve esta ideia, mas a ideia prejudicou mais as famílias moçambicanas, e, como dizia o réu das dívidas ocultas, o Nhangumele, “Não se fica rico trabalhando para o Estado”, funcionários do Estado na sua maioria só trabalham para pagar as contas e mais contas pelo que parece.

NOÉMIA MENDES

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 07 de Fevereiro de 2024, na rubrica de opinião denominada Geração 2000

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